Quo vadis direita

Se alguma catástrofe pode ser destacada em plena época de incêndios, este ano não tenhamos dúvidas de que foi esta saída do PSD. A criação de um novo partido liderado por Santana Lopes marcará uma cisão sem precedentes à direita.

Terminaram as férias, acabou a silly season e o país regressa à natural rotina política. Este poderia ser o interlúdio normal para um artigo próprio da rentrée política, mas que, desta vez, não representa o estado político em que o país se encontra.

A Direita portuguesa esboroa-se, confronta-se e divide-se como nunca antes tinha acontecido, exceção feita aos seus primeiros anos de existência. Depois de termos acompanhado, há meia dúzia de meses, a uma disputa que se esperava entre novas-esperanças no maior partido da oposição, mas que se ficou por um acerto de contas entre velhas-guardas, assistimos agora os estranhos resultados desse confronto. 

Um, vitorioso, lidera um partido dividido, acossado, desmobilizado e sem qualquer participação política ao longo de um mês inteiro. “Férias são férias”, disse-se. Mas nunca se assistiu a tamanho alheamento político, como se o país fosse de férias e com ele se suspendessem as responsabilidades e os problemas. 

O outro, que reclama a herança ideológica de Sá Carneiro, bate com a porta ao fim de 40 anos e de múltiplas funções assumidas, mas não sem antes ter feito questão de o fazer com bastante alarido e em plena época de vazio de notícias. 

Se alguma catástrofe pode ser destacada em plena época de incêndios, este ano não tenhamos dúvidas de que foi esta saída. A criação de um novo partido liderado por Santana Lopes marcará uma cisão sem precedentes à direita. Um novo partido personalista, diz ele, unipessoal dirão todos os outros. 

Mas o que ganha o país com uma Direita tão pulverizada? 

Ganha um país com maior convicção de que só o Partido Socialista tem a capacidade de gerar consensos e ser mais representativo do pensamento nacional, mas perde uma oposição com a força suficiente para manter os equilíbrios necessários ao regime. 

Compreende-se que no meu caso particular eu veja sempre o Partido Socialista como o mais capaz de responder aos anseios dos portugueses, mas um partido de governo é tanto melhor quanto melhor for a sua oposição. 

É a pluralidade que reforça a Democracia.

O que temos assistido é a um silêncio absolutamente extraordinário de Rui Rio, que alguns poderão apelidar de estratégico, mas que só pode ser visto como um acto irresponsável de quem coloca as suas “circunstâncias pessoais acima do próprio partido” e, mais grave, “dos interesses do país” para citar um dos fundadores do seu partido.

Ao longo de um mês inteiro não se ouviu uma única palavra que fosse sobre qualquer dos problemas que o país atravessou, ou sobre a Europa a quem devemos solidariedade, nem mesmo sobre os incêndios de Monchique, um município social-democrata. 

Nem aqui houve a natural solidariedade institucional e política. Adiou a visita às áreas afectadas pelos maiores incêndios de 2018, de acordo com a sua agenda pessoal e não com a agenda do país. E soube-se, na véspera da rentrée, que arranca o ano político colocando em tribunal, e trazendo à praça pública, os seus companheiros, candidatos às autárquicas de 2017, que ultrapassaram os orçamentos aprovados. 

Boas contas, todos queremos sempre, mas é de esperar que se exponham militantes na praça pública por assuntos internos de um partido? 

É de se esperar que na rentrée política os problemas que se destacam não são os do país, mas os do partido?

De um lado uma caça às bruxas, do outro uma caça ao voto. 

Dois personagens políticos que aguardaram a idade da senectude para se comportarem como elefantes numa loja de cristais. 

O que ai vem não augura nada de bom à direita. Um acerto de contas que arrasta um grande partido para a sua desintegração e com ele o tabuleiro político a que Portugal se habituou. 

Que este seja um ano bom para Portugal e que consigamos cumprir todos os nossos objetivos políticos.

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