Os brancos que fazem a diferença

The White Experience juntou aos Alvarinho de Monção e Melgaço os melhores brancos das outras regiões do país e da Europa, mostrando que, por entre diferentes abordagens, o território também marca a diferença. Provaram-se vinhos extraordinários e ficou a promessa de que para o ano há mais.

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Ficará seguramente para a história o encontro de há duas semanas, que juntou vinhos de Monção e Melgaço com outros produtores da região dos Vinhos Verdes e ainda alguns dos melhores brancos do país e também das mais reputadas regiões da Europa.

Uma cimeira de brancos até agora inédita em Portugal, mas que ficará na história por simbolizar também o definitivo enterro da guerra pela denominação do Alvarinho — tão sem sentido que quase já nem lembra —, e ainda porque se saldou por um vibrante e promissor encontro de apreciadores, em contraste com o ânimo bebedor que tem caracterizado as feiras de vinhos da região.

Esta primeira edição teve lugar em Monção, mas para o ano está prometida nova cimeira, e o município de Melgaço já disse que quer ser o anfitrião.

E se há uma clara consciência de que uma iniciativa exclusivamente centrada em grandes vinhos brancos era coisa mais ou menos inimaginável uma década atrás, convém também lembrar que mesmo em Monção e Melgaço — hoje apelidada como origem do Alvarinho —, e na região dos Vinhos Verdes em geral, a produção de brancos era residual e insignificante não há muito tempo.

A atestá-lo, uma garrafa, também ela histórica, da colheita de 1992 da Provam, em cujo título se destaca a indicação: “Alvarinho Branco”. Ou seja, o vinho era tinto e a excepção teria que ser bem assinalada, apesar da evidência da cor e da casta.

Demonstra isto que não é assim tão antiga a história dos Alvarinho do Alto Minho, apesar do seu claro sucesso e qualidade evidente. E foi precisamente para pôr em evidência essa diferença de história e características que a Comissão dos Vinhos Verdes quis juntar na região um lote alargado de grandes brancos. Não para mostrar quais os melhores — que isso é sempre subjectivo — mas para pôr em evidência aquilo que os distingue e caracteriza.

Desde logo a sua longevidade, característica comum à generalidade dos Alvarinhos da região, que é uma das grandes mais-valias dos terroirs mais valorizados da Europa e por cá ainda pouco reconhecida. Vinhos de extraordinária frescura e complexidade, como os que foram dados a provar nas adegas da Provam e da Cooperativa de Monção, com colheitas que recuam até há 25 anos.

Também em produtores com reconhecido estatuto de qualidade como Anselmo Mendes ou a casa Soalheiro, cujos ícones são já largamente apreciados mas nem sempre com a presença da marca da longevidade. Recuou-se até 1989 na prova dos Soalheiro, com um vinho ainda vivo e espevitado no seu brilho dourado, mas há vinhos como o Primeiras Vinhas 2012, cuja cor brilhante, riqueza aromática, frescura, elegância, complexidade e sabores frutados se batem com os mais apreciados e reconhecidos de todo o mundo. A grande diferença está no preço e esse é o caminho que a região (e os seus produtores) têm que percorrer.

E que dizer de um vinho como o Parcela Única 2011 de Anselmo Mendes, vibrante, intenso, fresco e saboroso como poucos o conseguirão por esse mundo fora? A par da longevidade e da extraordinária riqueza de vinhos com diferentes expressões de terroir e estilos de vinificação, o que todos mostram é que a região consegue como poucas equilibrar sempre grau e acidez, que são as bases para o envelhecimento saudável dos vinhos. Fruto das características desta sub-região de Monção e Melgaço, cujo círculo de montanhas as protegem da influência atlântica, proporcionando condições de perfeita maturação das uvas, conjugando elevadas temperaturas diurnas com noites frias.

Diferenciadora é também a diversidade de solos, que vão das áreas de aluvião junto ao rio Minho, ao calcário e calhau rolado dos terraços fluviais por onde há milénios andou o rio, até às encostas graníticas das zonas mais elevadas. Diferentes características a proporcionar vinhos com diferentes expressões, a que se juntam ainda as características intrínsecas de fruta e complexidade da uva Alvarinho.

É, depois, no trabalho de adega que se podem fazer sobressair as expressões de maior mineralidade ou tropicalidade de cada vinho, como demonstrou Luís Ramos Lopes — director da revista Vinhos Grandes Escolhas, co-organizadora do evento — numa masterclass com vinhos de diferentes produtores.

Mas não é só nos grandes vinhos de Anselmo Mendes ou da casa Soalheiro que se evidencia a qualidade e potencial da região. O que é verdadeiramente interessante é verificar que estão também nos vinhos mais comuns e de primeira linha de produtores de grandes quantidades, como a Provam ou Adega de Monção. No primeiro caso com os vinhos Portal Fidalgo, com colheitas como 1995 ou 2005 ainda a proporcionar provas extraordinárias (a sensação frutada no 1995 é ainda evidente). Também na prova vertical com o Deu-la-Deu da Adega de Monção — o seu Alvarinho de base e vendido abaixo dos seis euros, recorde-se —, os vinhos de 2002 e 2008 se mostraram num estado portentoso, numa prova de grande nível geral.

Caso claramente à parte — e que merecia um estudo e análise aprofundados — é o Terraços 2016 (marca que substitui o Deu-la-Deu Reserva), que fermentou com uma levedura autóctone de uva Alvarinho. É extraordinária a sensação de fruta na boca, a par da intensidade e equilíbrio do vinho. Diferencia-se claramente de todos os outros e os responsáveis da adega atribuem-no à levedura, mas não está previsto repetir a experiência. A questão é que a levedura resultou de uma experiência científica envolvendo uma empresa e a Universidade do Minho, e a sua produção industrial requer, pelos vistos, investimentos avultados. E então, não se justifica apoiar tal investimento? O vinho diz claramente que sim! 

A par dos mais significativos produtores de Monção e Melgaço, o encontro teve à prova vinhos de outros produtores de prestígio dos Vinhos Verdes, mais oito de grandes brancos das outras regiões do país. Houve ainda vinhos de prestígio de grandes regiões como Alsácia, Borgonha, Sancerre, Mosel, Áustria e Hungria.

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