Crítico de Putin quer desvendar mistério da morte de três jornalistas russos em África

Os repórteres tinham acabado de chegar ao país para investigar a presença de mercenários russos. Trabalhavam para um projecto noticioso de Mikhal Khodorkovski, milionário crítico de Vladimir Putin.

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A capital da República Centro-Africana, Bangui Reuters/Siegfried Modola

O magnata russo Mikhail Khordorkovski, crítico do Presidente Vladimir Putin, prometeu encontrar os responsáveis do homicídio na República Centro-Africana de três jornalistas que trabalham para o TsUR, um projecto noticioso digital financiado pelo milionário, e que estariam a investigar a presença de mercenários russos naquele país africano.

Os repórteres Orhan Dzhemal, Alexander Rastorguiev e Kirill Radchencko foram mortos numa embuscada na segunda-feira, um dia após terem chegado ao país. “Esforçar-me-ei para identificar todos os responsáveis”, escreveu nas redes sociais o milionário russo, que vive no Reino Unido.

O grupo de mercenários russos Wagner, com um historial de presença no Leste da Ucrânia e na Síria, tem estado activo na República Centro-Africana desde que, este ano, Moscovo começou a prestar assistência militar a Bangui. A Rússia e aquela nação africana assinaram um acordo de segurança que, como contrapartida, prevê que Moscovo possa explorar recursos minerais no país — um dos mais pobres do mundo, em que metade da população depende de assistência humanitária.

A República Centro-Africana é palco de um conflito armado desde 2013, quando um grupo rebelde muçulmano depôs o Presidente François Bozize, sendo posteriormente combatido por uma coligação de milícias cristãs. As Nações Unidas têm uma missão militar no território, que inclui forças portuguesas.

Apesar da instabilidade crónica do país, a zona onde ocorreu a emboscada de segunda-feira era considerada relativamente segura e é patrulhada por soldados governamentais apoiados por forças das Nações Unidas. “Não me lembro de alguma vez ter ouvido falar de um incidente desta natureza nesta estrada”, disse à Reuters o porta-voz militar da missão da ONU, Séraphin Embondza.

Em Moscovo, porém, a reacção foi de quase normalidade perante a notícia da morte dos três jornalistas. A porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova, escreveu no Facebook que tinha informações que os três compatriotas tinham “ignorado avisos de que estavam a abandonar uma zona controlada pelas forças policiais locais”.

A organização internacional Repórteres Sem Fronteiras (RSF) disse que, dada a situação no país, os jornalistas podem ter sido vítimas de um ataque motivado por questões financeiras — transportavam cerca de 8000 dólares e equipamento audiovisual — mas não coloca de lado que o crime possa ter tido outros motivos.

“Sabemos que existe uma forte presença russa na África Central e pode questionar-se até que ponto é que esta investigação sobre mercenários russos, liderada pelos três jornalistas, estaria a causar problemas”, disse Arnaud Froger, dirigente da RSF responsável por África. “Neste momento, nenhuma pista deve ser ignorada”, acrescentou.

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