Hollande promete ser “implacável” se se confirmarem abusos sexuais de crianças por militares

São 14 os suspeitos que estão a ser investigados. “Muito poucos” foram até agora identificados e nenhum foi ainda ouvido sobre as denúncias feitas por rapazes da República Centro-Africana.

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O caso pode provocar danos para a imagem das frequentes operações militares francesas em África MARCO LONGARI/AFP

O Presidente François Hollande prometeu ser “implacável”, caso se confirme que soldados franceses enviados para a República Centro-Africana abusaram sexualmente de crianças. A declaração foi feita esta quinta-feira, um dia depois de se saber que a procuradoria de Paris abriu em Julho de 2014 um inquérito preliminar às alegações.

“Se a informação for confirmada… a punição será proporcional aos actos. Se forem graves a punição será dura”, disse Hollande, preocupado com os danos para a imagem das frequentes operações militares francesas em África. “Serei implacável.”

Depois de, na quarta-feira, o diário britânico The Guardian ter divulgado o caso e de o Ministério francês da Justiça ter confirmado a abertura de um inquérito preliminar, a 31 de Julho, do qual não havia notícia, fonte judicial adiantou esta quinta-feira à AFP que são 14 os militares sob investigação, mas que “muito poucos” foram até agora identificados e nenhum foi ainda ouvido.

Fonte judicial ouvida pela Reuters repetiu as informações e acrescentou que estarão também implicados militares de outras nacionalidades, mas não forneceu outros dados.

Os menores que testemunharam contra os soldados franceses são seis, com idades entre os 9 e os 13 anos – quatro dizem ter sido vítimas de abusos e dois garantem tê-los testemunhado, segundo os elementos apurados no inquérito preliminar.

A procuradoria francesa informou que vai pedir o acesso ao inquérito interno feito pelo exército. O porta-voz do Ministério da Defesa, Pierre Bayle, garantiu que não há “qualquer vontade de esconder o que quer que seja” e prometeu “tolerância zero”.

A investigação diz respeito a alegados abusos que terão sido cometidos entre Dezembro de 2013 e Janeiro de 2014 num centro de deslocados, no aeroporto M’Poko, em Bangui. Segundo o The Guardian, investigadores das Nações Unidas recolheram testemunhos de rapazes que acusaram soldados franceses de terem abusado sexualmente deles, oferecendo-lhes em troca comida e dinheiro. Um dos rapazes tinha nove anos.

Denunciante suspenso
O caso já teve efeitos colaterais: o jornal britânico noticiou que um responsável das Nações Unidas, Anders Kompass, director de operações de campo do Alto-Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, foi suspenso, por ter transmitido às autoridades francesas o relatório interno sobre o assunto. Fontes conhecedoras do caso disseram que Kompass, sueco, veterano com mais de 30 anos de trabalho humanitário, terá tomado a iniciativa devido à inacção dos serviços do Alto-Comissariado.

O porta-voz adjunto da ONU, Farhan Haq, confirmou a suspensão de um responsável, sem o identificar, e justificou a medida com o desrespeito das normas internas. Disse que do relatório transmitido oficiosamente às autoridades francesas, sem conhecimento dos superiores hierárquicos, não foram retirados os nomes das vítimas, testemunhas e investigadores, o que os poderia “colocar em perigo”

Em Dezembro de 2013, com um mandato das Nações Unidas, a França deslocou um primeiro contingente de 1200 soldados para a República Centro-Africana, para apoiar uma força pan-africana incapaz de conter a espiral de violência sectária. Depois de massacres da coligação Séléka, que aceleraram o envio da força francesa, viriam a ocorrer perseguições das milícias anti-balaka, predominantemente formadas por cristãos, movidas por sentimentos de vingança.

A chamada missão Sangaris envolveu no total cerca de 2000 efectivos. Já em 2015 foi reduzida a 1700 soldados, passando progressivamente as suas tarefas para a Minusca, missão das Nações Unidas que começou a actuar em Setembro de 2014.

 

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