Estudo revela que o Porto não tem espaços para a prática de desportos femininos

Os espaços não estão incentivam à prática de modalidades que a maioria das raparigas prefere, como a dança, ginástica e natação.

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Nelson Garrido

Um estudo sobre a prática de actividade física em adolescentes do Porto, premiado pela Associação Portuguesa de Epidemiologia, revelou que os espaços verdes da cidade "não vão ao encontro das necessidades das raparigas", explicou o seu responsável.

"A maioria dos espaços verdes e desportivos da cidade estão direccionados para a prática desportiva dos rapazes e não das raparigas. Os espaços não estão à disposição da prática de modalidades que a maioria das raparigas prefere, como a dança, ginástica e natação", contou à Lusa o investigador do estudo, Alexandre Magalhães.

O estudo, designado 'O papel do ambiente, dos determinantes socais e de saúde na prática da actividade física na adolescência', realizou-se entre 2003 e 2005, e teve como principal objectivo "estudar a influência do ambiente urbano na prática desportiva em adolescentes".

Na análise participaram 969 estudantes de escolas públicas e privadas do Porto, residentes na cidade e nascidos em 1990.

"O nosso objectivo foi perceber como ao longo do tempo a actividade física variava nos adolescentes dos 13 para os 17 anos, daí o nosso período de avaliação se ter dividido em dois momentos, 2003 e 2007", sublinhou.

Alexandre Magalhães considerou que uma das conclusões mais importantes do estudo foi a "necessidade de pensar em espaços que permitam às raparigas praticar actividade física".

"Não é por falta de vontade das raparigas, mas sim pela oferta ser mais delimitada ou até mesmo por não existirem espaços gratuitos para a prática das actividades que preferem", explicou o investigador.

Do estudo fizeram parte 26 espaços públicos da cidade do Porto, com uma área maior ou igual a dois mil metros quadrados, e que permitiam a prática de actividade física.

Segundo Alexandre Magalhães, "houve uma diminuição da actividade física entre os 13 e 17 anos", questão que acredita estar relacionada "com o facto de os adolescentes necessitarem de mais horas de estudo" e não com a distância dos espaços verdes à residência dos inquiridos.

O investigador acredita que a solução para promover a prática de actividade física no Porto passa pela "criação de um protocolo entre a câmara municipal e alguns clubes" de modo a que "todos os adolescentes tenham acesso a diferentes modalidades nos espaços da cidade".

O estudo desenvolvido por Alexandre Magalhães no Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) foi distinguido pela Associação Portuguesa de Epidemiologia (APE) com o prémio de melhor Publicação de 2017.

O prémio vai ser atribuído no XIII Congresso da APE, que se realiza de 11 a 14 de Setembro, em Lisboa.

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