Grupo Amorim salta do Douro e instala-se no Dão

Compra da Quinta da Taboadella representa um recomeço. O projecto do Douro está a atingir o cúmulo da produção e Luísa Amorim quer um papel de destaque numa região que começa a dar nas vistas

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Nelson Garrido

O grupo Amorim concluiu no final da semana passada o contrato de aquisição da Quinta da Taboadella, uma propriedade no concelho de Sátão com 50 hectares de vinha. Depois de consolidar o negócio no vinho no Douro, a família Amorim constatou a necessidade de avançar com “um novo projecto” e a região do Dão apareceu como o destino natural dessa ambição.

“O Dão é uma região clássica de vinhos em Portugal, começa agora a ser vista de forma diferente no mercado internacional e acreditamos que este é o momento exacto para investir”, explica Luísa Amorim, directora executiva da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, a empresa que opera no Douro.

A Quinta da Taboadella é uma propriedade que aparece em registos antigos da região. Era propriedade de uma família local que não tinha o negócio do vinho como o eixo principal da sua actividade. Chegou a vender vinhos com marca própria, mas a maior parte da sua produção era comercializada a granel ou em formatos com menos valor acrescentado (“bag in box”, por exemplo).

A sociedade que a detinha entrou entretanto em insolvência e o negócio do grupo Amorim teve de passar pela negociação com o tribunal. O valor final da aquisição da propriedade rondou 1,1 milhões de euros.

Com vinhas em zonas altas, entre os 400 e os 520 metros (condição para a produção de vinhos com um perfil mais fresco e elegante), a Taboadella “parece-me a França”, diz Luísa Amorim. Quando a Quinta Nova, no Douro, começou a acelerar o seu crescimento, um processo que em dez anos elevou o volume de comercialização de 200 mil para 500 mil garrafas, Luísa Amorim começou a procurar vinhas no Dão capazes de alavancar um novo projecto.

“Foi há cinco ou seis anos, mas, na altura, não encontrámos aquilo que andávamos a procurar”, diz a gestora – na região é difícil encontrar manchas de vinha com esta dimensão. A Taboadella, acrescenta, é o lugar ideal e o momento oportuno. “Daqui a cinco ou seis anos será muito mais difícil porque o Dão está a mudar”, explica.

Nos 50 hectares de vinhedos há castas tradicionais da região com as quais a equipa de enologia e viticultura (Jorge Alves e Ana Mota) querem trabalhar. Mas vai haver mudanças. Por exemplo, a área dedicada à casta Encruzado, uma história de sucesso do Dão com menos de 30 anos, vai aumentar. “Este ano, a vindima será ainda experimental e não sabemos se vamos, ou não, lançar vinhos com a marca da casa. O projecto avançará a sério em 2020”, diz Luísa Amorim. Para lá de mudanças na vinha, estão previstos também investimentos na construção de uma adega moderna.

A Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo foi o activo que Américo Amorim conservou quando desistiu dos investimentos que tinha feito no sector do vinho do Porto. O projecto ficou desde o início a cargo da sua filha Luísa.

No ano passado, a empresa facturou 4,1 milhões de euros, cabendo 1,1 milhões à componente turística. Mantendo o seu actual ritmo de crescimento, o projecto do Douro deixará em breve de contemplar o aumento das vendas para apostar apenas no valor acrescentado. “Não queremos ultrapassar a produção das 600 ou 700 mil garrafas”, diz Luísa Amorim. Uma estratégia que ajuda a explicar a aposta no Dão.

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