Rapper XXXTentacion, um jovem fenómeno, morre após aparente assalto

O rapper tinha 20 anos e a sua curta carreira deu-lhe o número 1 de vendas nos EUA e alguma polémica.

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O músico era tido como uma controversa promessa LUSA/FLORIDA DEPARTMENT OF CORRECTIONS / HANDOUT

O rapper norte-americano XXXTentacion morreu nesta segunda-feira, em Miami, depois de ter sido atingido por vários tiros à queima-roupa, avançou o site norte-americano TMZ. Teve uma vida conturbada, marcada pela violência e pela história de rápida ascensão de um jovem talento musical.

O rapper de 20 anos estaria a comprar uma mota, em Miami, no estado norte-americano da Florida, quando dois homens armados saíram de um carro e pelo menos um deles começou a disparar na sua direcção, segundo detalhes entretanto dados pelo xerife de Broward, o condado onde ocorreu o tiroteio. "Os dois suspeitos fugiram num carro SUV preto. Os investigadores dizem que parece ser um possível roubo."

O músico ainda foi assistido no hospital, mas não resistiu aos ferimentos. 

XXXTentacion, nome artístico de Jahseh Onfroy, apresentava-se como uma jovem promessa no rap e o seu segundo álbum, ?, entrou directamente para número 1 no top de vendas da Billboard - o primeiro, 17, tinha chegado a número 2. No total, vendeu mais de 2 milhões de discos na sua curta carreira. Forjou o sucesso na plataforma de música SoundCloud com o seu primeiro tema, Vice City, e desde então foi lá lançando, e depois através do circuito tradicional, vários EP e temas que iam tocando vários estilos musicais. O SoundCloud, de onde saiu uma vaga de rap recente, foi onde teve outro êxito, como assinala o New York TimesLook at Me!. 

Na sua vida privada, aguardava julgamento por agressão agravada e violência doméstica por alegadamente ter atacado a namorada grávida. Em tribunal, tinha-se declarado inocente da violência que a sua ex-namorada dizia ser constante e que culminou nesse ataque em Outubro de 2016. Depois disso, doou 100 mil dólares a instituições que se dedicam à prevenção da violência doméstica. Morreu sem ir a julgamento. Como recorda o Washington Post, a sua construção pública enquanto rapper embebia-se também dos relatos de violência - como a alegadamente cometida sobre um colega de cela pela sua homossexualidade ou pelas escaramuças regulares com os próprios fãs nos concertos. 

A sua conduta voltaria a estar sob análise em 2017 quando foi atacado e acusou os rappers Migos desse acto, mas imagens do ataque comprovariam que não se tratava dos músicos da Geórgia, igualmente bem sucedidos. Na juventude esteve num reformatório por posse de arma e foi detido já em adulto em 2016 roubo e violência armada.

Na sequência dessas acusações, o músico foi um dos rappers que a plataforma de streaming musical Spotify retirou do seu serviço (outro deles foi R. Kelly, acusado de abuso sexual de menores) em Maio, por considerar que a vida particular de alguns músicos seria "de ódio". Mas a indústria musical revoltou-se contra a decisão e os temas de XXXTentacion voltaram ao Spotify, um dos actuais principais pontos de consumo musical.  

A sua morte levou vários músicos às redes sociais para lamentar o sucedido, com Kanye West a escrever: "Nunca te disse enquanto cá estavas quanto me inspiraste". O músico Questlove, dos Roots, partilhou uma fotografia do jovem Jahseh Onfroy com a legenda "A América devora os seus jovens". No ano passado, sobre a crueza das rimas de Onfroy, o respeitado Kendrick Lamar recomendava via Twitter: "Ouçam este álbum se sentirem alguma coisa".  

O contexto de vida do rapper, criado sobretudo pela avó, foi resumido em parte numa entrevista ao Miami New Times, citada esta terça-feira pelo Guardian, em que dizia ter na violência uma forma de chamar a atenção. "Costumava bater nos miúdos na escola para conseguir que ela simplesmente falasse comigo, que gritasse", referindo-se à mãe. Um dos cronistas do actual momento musical no rap e nesse boom do SoundCloud como plataforma de divulgação e criação nessa área musical, Roger Gengo, disse ao New York Times que a sua visão sobre XXXTentacion era sempre dividida. "Tendo em conta aquilo de que foi acusado, a sua música ainda assim era incrivelmente autêntica. O seu verdadeiro eu sangra para a sua música e as suas letras."

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