Sedução russa à FIFA causou desconfiança mas não se provou mais do que isso

A atribuição do Mundial à Rússia fez correr muita tinta.

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A Rússia vai acolher o Mundial 2018 LUSA/ABEDIN TAHERKENAREH

A atribuição do Campeonato do Mundo de futebol à Rússia foi um processo que deixou muitas dúvidas. Foram várias as suspeitas de que o país presidido por Vladimir Putin teria utilizado estratégias, no mínimo, questionáveis junto da FIFA para garantir que a Rússia realizasse o torneio.

Com a entidade que gere o futebol mundial envolvida em casos de corrupção que levaram à detenção de sete altos-dirigentes da FIFA e à acusação de outros cinco por extorsão e corrupção, não restou outra alternativa àquela entidade que não fosse fazer uma limpeza na cúpula directiva e dar início a investigações independentes.

Um deles foi o designado “Relatório Garcia”, assim chamado por ter sido conduzido por Michael Garcia, um procurador norte-americano independente que pretendeu analisar a forma como decorreram os processos eleitorais que atribuíram os Mundiais de 2018 e 2022, respectivamente, à Rússia e ao Qatar.

Numa fase inicial, a FIFA disponibilizou à comunicação social apenas uma pequena parte do documento, o que levou o seu autor a abandonar a Comissão de Ética em protesto. Mas, depois, a versão completa foi libertada e, se é verdade que ao longo das suas 349 páginas era possível descortinar alguns procedimentos discutíveis, também é certo que não ficou provada a prática de claros actos criminosos.

Os indícios relacionadas com alegadas irregularidades graves levaram o autor do relatório a propor a continuação das investigações e a aplicação de sanções a vários membros de topo do Comité Executivo da FIFA, incluindo ao ex-futebolista alemão Franz Beckenbauer, mas não propôs que o resultado da votação que entregou o Mundial 2018 à Rússia fosse anulado.

A análise à candidatura russa censura o facto de esta não ter informado, como deveria, a totalidade dos contactos que manteve com elementos do Comité Executivo, mas afastou de forma contundente a hipótese de ter feito ofertas ilegítimas ou “movido influências”.

Mesmo assim, vários procedimentos continuam a suscitar dúvidas. Por que motivo os computadores utilizados pelos russos para os contactos desenvolvidos junto da FIFA foram alugados e, posteriormente destruídos? Ou por que razão o Google EUA não respondeu a um pedido dos investigadores para que lhes fossem entregues e-mails  trocados e considerados pertinentes para a investigação?

Mas a influência da Rússia na FIFA não se resume à candidatura à realização do Mundial 2018. E Miguel Poiares Maduro, ex-ministro português e convidado por Gianni Infantino para o Comité de Governação da FIFA num momento em que esta entidade procurava limpar a sua imagem internacional depois dos escândalos que a afectaram, sentiu-a na pele. O português vetou a recandidatura do vice-primeiro-ministro russo Vitali Mutko ao Comité Executivo do organismo, por ela violar as regras de neutralidade política da FIFA, para além de se tratar de alguém implicado no escândalo de doping na Rússia, quando liderava o Ministério do Desporto, mas viu Infantino retirar-lhe o apoio e demiti-lo do Comité de Governação. Já Mutko manteve-se no Comité Executivo.

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