Todos a bordo, para o mundo inteiro

O festival Eurovisão testou ao limite as nossas capacidades criativas e executivas.

Há vitórias que se traduzem em responsabilidades, que por sua vez geram enormes oportunidades. É o caso. Ao fim de 53 anos, Portugal ganhou a Eurovisão, com o singular Salvador, e coube-nos organizar um grande festival no nosso país. E aqui estamos, com trabalho feito e com gosto. Porquê? Porque vale a mesmo a pena, a vários títulos.

Porque é bom poder ganhar. É positivo que Portugal se habitue a ter chances reais de vencer competições internacionais, no entretenimento, na cultura, no desporto, em tantas áreas. Isto altera a forma como somos percecionados a nível global; e é relevante que não sejamos meros figurantes, aqueles que estão de corpo presente, mas que sejamos concorrentes ativos – por vezes triunfando, por vezes não, mas sempre levados a sério e com uma palavra a dizer.

Porque é bom afirmar os nossos valores. E o conceito que desenvolvemos para o Eurovisão – All aboard! – gira à volta de um país criativo, de uma cultura aberta, tolerante, inclusiva, progressista mesmo, que junta realidades diversas com naturalidade e alegria, como poucos povos sabem fazer. É interessante que Portugal e a RTP afirmem estes valores no mundo atual.

Porque é bom realizar o difícil. O festival Eurovisão é o maior evento musical do mundo, um projeto de enorme envergadura e complexidade, com os requisitos técnicos mais exigentes do setor, que testaram ao limite as nossas capacidades criativas e executivas. E apesar de todas as reestruturações pelas quais a RTP tem passado, demonstrámos mais uma vez uma capacidade de concretizar e um saber fazer que a instituição e os seus profissionais conseguem ir buscar bem fundo nos momentos decisivos.

Porque é bom juntar forças. O festival Eurovisão, na sua componente conceptual, criativa, musical, televisiva, comunicacional e de produção executiva, coube à RTP. Mas teríamos ficado a meio caminho sem o empenho ativo da cidade de Lisboa, do turismo, e de inúmeros parceiros de projeto, desde as instituições culturais que se associaram a empresas de tecnologia, mobilizando toda uma fileira de agentes das indústrias criativas que fazem a diferença numa aventura como esta e que têm potencial para outras iniciativas que Portugal pode e deve realizar.

Porque é bom chegar ao mundo inteiro: 200 milhões de espectadores, com preponderância de públicos jovens. Milhares de jornalistas internacionais em Lisboa durante várias semanas, produzindo notícias e conteúdos digitais a toda a hora. Centenas de milhões de visualizações de imagens e vídeos a partir de Portugal para as redes sociais e para plataformas novas cujos nomes às vezes nem conhecemos. E, pela primeira vez, um operador europeu teve o direito a transmitir a Eurovisão nos seus canais internacionais para o mundo inteiro, através da RTP Internacional e RTP África. Sim, chegámos mesmo a todo o lado.

Porque é bom construir a nossa credibilidade. A realização do festival Eurovisão é mais uma prova – entre várias recentes em vários domínios – de que sabemos fazer com competência (e moderação de meios), que podemos atuar na cena internacional e que as nossas instituições conseguem aproximar-se das melhores referências mundiais.

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

Sugerir correcção
Comentar