Um bar que cai que nem ginjas ao Cais do Sodré

Está no Cais do Sodré, mas fora da rota mais turística. No Ginja com Elas, o bar simples e descontraído de Carolina Santos, adivinha-se qual é bebida-rainha, mas há muito mais para beber e comer.

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Carolina Santos chegou ao negócio da ginja já há uns aninhos, mas ainda fala com um tipo de entusiasmo que se costuma encontrar em quem está a dar os primeiros passos. Talvez porque, para ela, tudo isto ainda lhe transmita a mesma sensação de irrealidade dos tempos em que se lançou nesta vida. “As coisas foram acontecendo sem pensar muito nelas”, admite, risonha.

Quando a crise atingiu em cheio a construção civil, Carolina foi obrigada a reinventar-se, a mudar de vida. Não tem problemas em admitir que ter um bar não estava, nem de longe nem de perto, nos seus planos. “Não era propriamente algo que eu tivesse como desejo ou sonho.” Num pedaço de papel foi escrevinhando as ideias de futuro que lhe surgiam no espírito. Lá para o meio havia de estar esta, que foi como semente pequena lançada à terra, regada sabe-se lá por que meios. “Ao longo deste processo senti que havia algo que me empurrava a continuar, a fazer isto.”

Nasceu uma ginjeira, mas ainda não esta sobre a que falamos aqui. Ficava para os lados da Calçada do Combro, sítio penoso para subir e descer, que há coisa de ano e meio trocou por um local mais ribeirinho. Assim nasceu este Ginja com Elas, um pequeno bar de paredes brancas e balcão de madeira instalado nas costas do Cais do Sodré. São as costas porque este não é o lado cor-de-rosa, o dos guias, o da decadência chique. Aqui, a decadência é só decadente. Carolina Santos sabe disso muito bem e fala sem pejo. “É uma zona com alguns problemas”, mas também tem vantagens. “O que eu noto é que o facto de estar longe da confusão é atractivo para um certo tipo de cliente. Há pessoas a partir de determinada faixa etária que já não vêm ao Cais porque dizem que isto é muito confuso. Aqui não sentem isso.”

É fácil acreditar nisso, aqui, entre garrafas de vinho, fotografias artísticas, azulejos brancos e Norah Jones. “Não fiz inaugurações nem nada. A abertura foi muito casual e descontraída. Foi chegar ali, abrir a porta e já está”, conta Carolina.

Quase tudo tem sido um acaso nesta aventura. O sítio? Não foi Carolina que o procurou, apareceu-lhe. O nome? Ela até tinha outro em mente, mas uma amiga sugeriu-lhe este, até desenhou uma mulher saloia de copo na mão e Carolina deixou-se convencer. O espaço? “Ainda está em desenvolvimento, digamos que é um puzzle em construção.” Até a carta está aberta a sugestões: “Ainda ontem esteve aqui um senhor que trouxe um queijo de Serpa óptimo, fiquei logo com o nome do produtor.”

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E que mal tem o acaso? No Ginja com Elas, a descoberta parece ser palavra de ordem. “Esforço-me por ter produtos de pequenos produtores, que não se encontrem facilmente. Estou muito voltada para o produto português e de qualidade”, diz Carolina Santos. Nas prateleiras estão garrafas dos vinhos Quinta de Alcube (Azeitão), Horácio Simões (Palmela), Ereira (Lamego), António Saramago (Azeitão), entre outros. Há ainda moscatéis (2€ o copo), moscatel roxo (3€) e vinho abafado (2,50€).

Na carta encontram-se também a portuguesíssima amêndoa amarga (2,50€), o medronho (2,50€) e os Portos (3,50€). A estrela da companhia, claro está, é a ginja. Rubi de seu nome, como a lojinha aberta na Rua Barros Queirós desde 1931 ou 1935, produzida em Arroios com elas da região de Óbidos. Tanta geografia num só copo.

Há também uns petiscos para forrar o estômago, como farinheira, alheira ou morcela, além de tábuas de queijos e enchidos (entre os 5 e os 14€) ou as mais tradicionais azeitonas. Para aventureiros, Carolina Santos organiza, em parceria com produtores que conhece, provas de vinhos para grupos. “Isso resulta muito bem, as pessoas gostam bastante”, diz, com orgulho.

Talvez seja piada batida, mas, ao Cais do Sodré, isto cai que nem ginjas.

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