Costa pressionado a explicar fim do silêncio sobre Sócrates

O candidato a secretário-geral do PS não valoriza a hipótese de ser colado aos apoiantes de Sócrates. Sublinha que Costa não fala de corrupção na sua moção e quer um debate público a dois.

Daniel Adrião é candidato a líder do PS
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Daniel Adrião é candidato a líder do PS NFS Nuno Ferreira Santos
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Moção de António Costa chama-se Geração 20/30 LUSA/MÁRIO CRUZ
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José Sócrates Miguel Manso

O socialista Daniel Adrião assume ao PÚBLICO que não compreende e, por isso, ainda espera que sejam explicadas as razões que levaram a direcção do PS a quebrar a regra de “silêncio estratégico” sobre o processo judicial, envolvendo o antigo líder do partido e ex-primeiro-ministro, José Sócrates.

“Não entendo, não foram explicadas as razões para que tenha sido quebrado o silêncio estratégico que António Costa impôs ao partido sobre o processo de José Sócrates”, declarou Daniel Adrião. Adrião concorre ao lugar secretário-geral do PS nas eleições directas de dias 11 e 12 de Maio, candidatura que formalizou para poder apresentar uma moção global de estratégia ao 22º Congresso socialista marcado para os dias 25, 26 e 27 de Maio, na Batalha.

“Não percebo porque foi quebrada a regra imposta por António Costa de que não se deveria falar sobre o processo e que o partido cumpriu”, explica Adrião, lembrando que Costa, logo a 22 de Novembro de 2014, no dia a seguir à detenção de José Sócrates e no último dia das directas em que foi eleito secretário-geral do partido, enviou um sms a todos os militantes.

Nessa mensagem, António Costa afirmava: “Caras e caros camaradas, estamos todos por certo chocados com a notícia da detenção de José Sócrates. Os sentimentos de solidariedade e amizade pessoais não devem confundir a acção política do PS, que é essencial preservar, envolvendo o partido na apreciação de um processo que, como é próprio de um Estado de Direito, só à Justiça cabe conduzir com plena independência, que respeitamos. Ao PS cabe concentrar-se na sua acção de mobilizar Portugal na afirmação da alternativa ao governo e à sua política. Um abraço afectuoso do António Costa.”

Adrião insiste em sublinhar: “António Costa, durante quatro anos, recusou-se a falar sobre o processo. De repente, um conjunto de dirigentes comenta-o. Havia um silêncio sepulcral que foi quebrado. É natural que esteja a causa uma onda de choque no partido.”

O candidato a líder recusa a ideia de que a razão para a mudança de posição em relação ao caso Sócrates seja a notícia do Observador que divulgou ter o Ministério Público investigado que o ex-ministro da Economia Manuel Pinho, enquanto exercia o seu mandato governamental, recebia 15 mil euros por mês do Grupo Espírito Santo, para o qual trabalhara anteriormente. “Uma coisa não tem nada a ver com a outra”, considera Adrião, defendendo que isso “foi um pretexto” e concluindo: “Custa-me a acreditar que fosse só isso que levasse a alterar a estratégia que estava muito bem definida.”

“O melhor antidoto”

Sobre a necessidade de combater a corrupção, Adrião frisa que a sua moção propõe “um pacote de transparência e uma reforma do sistema político” e defende que “se alguém quer combater a corrupção e o abuso do poder é aplicar as medidas” por si propostas, que classifica como “o melhor antidoto”.

Não deixa, contudo, de registar que “António Costa na sua moção não tem uma linha sobre reforma do sistema político, quando isso estava no programa eleitoral e na primeira versão do programa do Governo que levou à Assembleia da República”. E pergunta: “Por que é que António Costa deixou cair essa reforma?”

Quanto à possibilidade de poder beneficiar do voto dos militantes que discordam da mudança de estratégia de Costa em relação a Sócrates, Adrião, apenas diz: “Não recuso o apoio de ninguém, é uma eleição por voto secreto, as pessoas são livres e as motivações do seu voto são as mais diversas.”

E recusa-se a comentar o facto de no Facebook do dirigente socialista Renato Sampaio ter surgido um comentário de Nuno Fraga Coelho, antigo assessor de Sócrates já depois de deixar o Governo, em que este, a propósito da demarcação da direcção socialista, defende: “É importante concretizar isso no congresso, com a única candidatura que pode recolocar o PS nos eixos e impedir esta deriva que só beneficia a direita. Moção Reinventar Portugal, de Daniel Adrião. Subscrever a moção de António Costa é pactuar com esta pouca vergonha que nada dignifica o Partido Socialista, a sua matriz e os seus fundadores.”

Desvalorizando uma eventual colagem aos apoiantes de Sócrates, Adrião considera que “isto é o debate no partido, é o confronto de ideias, é o velho PS” e garante: “Eu respondo pelas minhas propostas”. É por isso que Manuel Brito, mandatário do candidato A a secretário-geral que aparecerá em primeiro lugar nos boletins de voto – Costa será o B e ambos terão o seu nome e foto – enviou na segunda-feira um e-mail ao presidente da Comissão Organizadora do Congresso, Manuel Lage, a propor um “debate público” entre Adrião e Costa e sugerindo que, “em caso de impedimento por motivos de agenda na qualidade de primeiro-ministro, deverá ser representado pela designada secretária-geral adjunta Ana Catarina Mendes”.

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