Albuquerque para BE e PCP: "Já não são sapos, são elefantes que vocês engolem"

Debate mensal no parlamento madeirense voltou a ser marcado pelo contencioso entre os governos da República e da Madeira.

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Miguel Albuquerque esteve no debate mensal Gregório Cunha

A dialéctica Funchal-Lisboa teve esta terça-feira mais um episódio. Durante o debate mensal no parlamento madeirense, governo regional e PSD-Madeira insistiram no “tratamento diferenciado” com que o Estado tem pautado o relacionamento com a região autónoma, acusando a oposição de cumplicidade com esta discriminação.

“Não se trata de engolir sapos. Nem sequer engolir elefantes. Estão a engolir elefantas grávidas”, atirou o chefe do executivo madeirense, Miguel Albuquerque, para as bancadas do Bloco e do PCP, durante o debate, dedicado à “Prevenção de Riscos Naturais”.

Uma oportunidade para a oposição perguntar sobre a execução da Lei de Meios – criada para a reconstrução do arquipélago depois do aluvião de 20 de Fevereiro de 2010 –, e questionar o executivo sobre as repostas que têm sido dadas às catástrofes que têm assolado a ilha: incêndios em 2012 e em 2016.

Uma oportunidade para comparar, também, as realidades do continente e da Madeira aproveitada, em primeiro lugar, pelo secretário regional da Saúde, Pedro Ramos, que, depois de vincar que toda a política do governo é virada para a prevenção, garantiu aos deputados que a Protecção Civil regional está bem equipada de meios humanos e técnicos.

“A nossa Protecção Civil não precisa de ser reformulada, como está a acontecer no continente onde morreram 107 pessoas”, disse o secretário regional, criticando depois os serviços municipais do Funchal – onde o PS, Bloco e JPP governam em coligação – com uma referência à queda da árvore no Monte, que no Verão passado provocou a morte a 13 pessoas.

E, depois de Albuquerque voltar a falar do “incómodo” de comunistas e bloquistas, por serem poder em Lisboa e oposição na Madeira – “apoiam o governo às segundas, quartas e sextas, para depois dizerem mal às terças, quintas e sábados” –, a oportunidade foi aproveitada pelo vice-presidente do executivo madeirense, que fez o ataque mais violento à oposição.

“Está a fazer a política mais baixa que esta casa já assistiu”, disse Pedro Calado ao líder do grupo parlamentar socialista, Victor Freitas, que durante o debate colocou em causa a execução da Lei de Meios, escrevendo no Facebook que o governo mentia e estava de má-fé. “Vamos divulgar pela comunicação social os números”, prometeu, acusando o PS-Madeira de defender um governo da República que não está a cumprir com o que prometeu à Madeira.

Calado deixou um exemplo. Recentemente, disse, o Estado contraiu um empréstimo a 15 anos com uma taxa de juro de 2,375%, mas continua a cobrar à Madeira juros de 3,375%. Um diferencial que, nas contas do governo madeirense, custa ao arquipélago 13 milhões de euros. “Já passaram quatro anos. Quer que faça as contas, senhor deputado?”, questionou, antes de a bancada social-democrata alinhar na narrativa e criticar a “solidariedade selectiva” do Estado, comparando a resposta dada pelo Governo a Pedrógão com a que foi dada à Madeira.

Num debate, em que o deputado independente Gil Canha falou da “economia da catástrofe” que permitiu ao PSD, primeiro com Alberto João Jardim e agora com Albuquerque, manter-se no poder – “o grosso do dinheiro foi para alimentar o monstro da construção civil” – o CDS focou-se, tal como o JPP, no ordenamento da floresta, enquanto PS, Bloco e PCP questionaram as opções de investimento que têm sido seguidas. 

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