Coreia do Norte
Oito dias de negro e gelo: uma viagem pela fronteira China-Coreia do Norte
“Vazio” é a palavra que Sagolj mais usa para descrever a zona da fronteira entre a China e a Coreia do Norte. As interacções do lado norte-coreano são escassas. Do lado chinês, a monotonia do silêncio é interrompida por um ou outro turista que escolheu a Coreia do Norte como pano de fundo para uma selfie.
Durante oito dias, o fotógrafo da Reuters Damir Sagolj viajou de carro pela fronteira entre a China e a Coreia do Norte. Munido com uma câmara e acompanhado por Sue-Lin Wong, a sua companheira de reportagem, Sagolj percorreu os 1420 quilómetros que separam os dois países de uma assentada. “Vazio” é a palavra que Sagolj mais usa para descrever a zona da fronteira. As interacções do lado norte-coreano são escassas. Do lado chinês, a monotonia do silêncio é interrompida por um ou outro turista que escolheu a Coreia do Norte como pano de fundo para uma selfie.
Do lado coreano, muito poucas pessoas entrecortaram a monotonia do negro e do gelo. Um ou outro soldado, um aldeão, duas mulheres que discutiram, três raparigas que brincavam enquanto iam buscar água ao rio Yalu, gelado. O fotógrafo conta um dos episódios que mais o impressionaram: avistar um grupo de 20 homens que inspecionavam o rio com “com fatos de borracha laranjas esquisitos, como se pertencessem a um filme de ficção científica muito antigo e de baixo orçamento”. Fortemente vigiados por polícias, os homens estavam, aparentemente, à procura de ouro.
Do lado chinês, há ferries para os curiosos que se querem aproximar da fronteira e binóculos para os que não se querem arriscar tanto. “Através de binóculos, no topo de um edifício alto, segui duas mulheres que caminhavam de um lado para o outro, por cima da ponte. O dispositivo enferrujado era de tipo militar, e o que vi fazia com que parecessem alvos. Estava muito frio e tive dificuldade em colocar a minha lente no binóculo para tirar a fotografia”, recorda Sagolj.
Mais pormenores curiosos do lado chinês: “Numa ilha ribeirinha em Linjiang, no meio do nada gelado, há um enorme ecrã virado para a Coreia do Norte. Enquanto lá estivemos, mostrou vídeos de propaganda às forças armadas chineses e publicitou avisos que proibiam qualquer actividade que pudesse causar instabilidade ao longo da fronteira”, escreveu o fotojornalista.