Volkswagen quer acelerar mudanças com novo presidente

Grupo alemão escolheu Herbert Diess para suceder a Müeller e deu um lugar na gestão à representação dos trabalhadores. Venda de alguns activos e dispersão de capital da unidade de camiões fazem parte da estratégia a seguir.

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Herbert Diess, à esquerda, passou a substituir Matthias Müeller (à direita) como presidente executivo do grupo VW LUSA/LARRY W. SMITH

Com a marca do escândalo da fraude nas emissões de gases poluentes dos carros a diesel ainda bem visível na imagem e nas contas do grupo Volkswagen (VW), a empresa alemã veio agora mostrar que quer acelerar o ritmo das mudanças. Chamado a intervir em 2015, quando se deu o pico da crise da VW por causa da manipulação dos dados das emissões, Matthias Müeller é substituído na liderança executiva do grupo por Herbert Diess, até aqui presidente executivo da marca Volkswagen (além de membro do conselho de administração do grupo alemão).

Com 59 anos (menos cinco do que Müeller), Diess chegou ao grupo VW em 2015, vindo da BMW e com uma fama de eficácia no corte de custos. Na VW, Diess tem conseguido fazer o difícil equilíbrio entre a aplicação de medidas na empresa e a não hostilização dos sindicatos, algo que se pretende aprofundar e alargar ao resto do grupo.

Bem recebida pelos analistas após o anúncio feito ao final da passada quinta-feira, a escolha de Diess veio acompanhada de outras novidades, como a entrada de um representante dos trabalhadores no conselho de administração, Gunnar Kilian.

Secretário-geral da entidade que reúne os representantes dos trabalhadores do grupo VW, Kilian fica agora com a pasta de recursos humanos.

A construtora automóvel, segundo um comunicado oficial, quer acelerar a estratégia que levará a VW a ser um grupo “rentável e líder na mobilidade sustentável”. Com os veículos eléctricos no horizonte, a conectividade domina cada vez mais a indústria automóvel, pelo que não admira que Diess assuma também a área de tecnologias de informação do grupo. E foi na liderança de Diess que a marca VW, dentro do plano do grupo para subir a rentabilidade, efectivou a aposta nos veículos utilitários desportivos como o T-Roc , que começou a ser produzido na Autoeuropa no Verão passado. Até 2020, a marca quer ter 19 modelos diferentes deste tipo de veículos, ocupando o T-Roc a quarta posição na cronologia.

Num encontro com jornalistas portugueses em Setembro, por ocasião do salão automóvel de Frankfurt (onde o T-Roc era uma das estrelas), Diess mostrou-se confiante num acordo entre trabalhadores e gestão por causa do novo regime laboral, que desde Fevereiro inclui os sábados – acordo esse que ainda não aconteceu – e colocou de parte a mudança do modelo para outra unidade fabril da empresa.

Ao mesmo tempo, não deixou de frisar que o grupo tinha sido “apanhado de surpresa” pela contestação dos trabalhadores, recordando a estabilidade laboral que tinha marcado a unidade de Palmela até ao momento. A decisão de fabricar o T-Roc em Portugal, afirmou o gestor, foi tomada em 2015, acrescentando que sempre se soube que iria alterar o modo de funcionar da Autoeuropa. Olhando para o futuro, afirmou aos jornalistas que o carro eléctrico vai ser “uma alternativa real” mas os veículos a diesel “vão ter um longo futuro, para quem viaja grandes distâncias” o que justifica a aposta numa nova geração de motores diesel.

As mudanças que levaram agora Diess à liderança do grupo implicam também uma reorganização das marcas, que ficam divididas em três grandes grupos: volume, premium e super premium. O primeiro inclui a VW e Seat, o segundo abrange a Audi e terceiro a Porsche, Bentley e Bugatti. A ideia, no entanto, é olhar bem para o portfolio do grupo e ver se há algo que deve ser alienado. Isso mesmo já foi admitido por Diess na sexta-feira, sendo que uma hipótese é a venda da Ducati (motas).

Com seis novas áreas de negócio – onde se inclui a de tecnologias de informação liderada pelo próprio Diess – e a criação de um portefólio especifico para a China, o grupo está ainda a preparar a autonomização da unidade de camiões e autocarros para dispersar uma parte minoritária do capital em bolsa (ganhando assim uma fonte de financiamento).

Na calha poderá estar também uma nova estratégia de alianças em áreas como a condução autónoma. “Não excluo novas parcerias”, afirmou Diess numa conferência de imprensa que se realizou sexta-feira na sede do grupo, em Wolfsburg, sublinhando que o desenvolvimento deste tipo de veículos é algo que requer “investimentos avultados”.

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