Gulbenkian cancela venda da petrolífera a accionistas chineses

As notícias sobre a empresa chinesa interessada levaram a Gulbenkian a fazer perguntas, que ficaram sem resposta. A fundação concluiu que “não existem condições para continuar as conversações”.

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Nuno Ferreira Santos

A Fundação Calouste Gulbenkian anunciou na manhã desta sexta-feira que “decidiu pôr termo à negociação que decorria com a CEFC para a venda da Partex”. Os accionistas chineses da CEFC tinham sido apontados como a parte compradora do negócio. A venda foi cancelada por se ter concluído que “não existem condições para continuar as conversações”, depois das notícias vindas a público sobre a situação do grupo chinês, lê-se no comunicado, assim como “a incapacidade desta empresa em esclarecer” essa situação junto da Fundação.

As notícias que levaram ao cancelamento do negócio chegaram no início de Março, pela Reuters: o presidente da CEFC China Energy, a empresa que também quer comprar os seguros do Montepio, estará a ser investigado por suspeita de crimes económicos, dizia a agência. A empresa chegou a negar que o seu presidente estivesse a ser investigado, mas entretanto houve noticias garantindo que tinha sido “detido para interrogatórios”. Desde aí, não houve mais desenvolvimentos públicos sobre esta situação. E mesmo relativamente aos negócios que a CEFC se preparava para concretizar em Portugal, a única nota pública que existiu foi para garantir que não estava em perigo a compra da seguradora do Montepio.

A Gulbenkian garante que manterá “inalterada a sua opção estratégica relativamente à nova matriz energética", ou seja, manterá o objectivo de se libertar do negócio petrolífero, dando "continuidade ao processo de venda da Partex, tendo em conta os melhores interesses da Fundação e da empresa”. Mas agora terá que procurar novo interessado. As negociações com os chineses da CEFC decorreram por mais de um ano, pelo que se adivinha que, voltando à estaca zero, tudo demore algum tempo até ter novos desenvolvimentos.

A venda da Partex, tornada pública no início de Fevereiro, representaria uma viragem total na estratégia de financiamento da Gulbenkian, justificada na altura como uma forma de adaptar a Fundação aos novos tempos das energias limpas. Mas foi sobretudo impulsionada pela decisão urgente de prolongar ou não as concessões de exploração de petróleo e gás nalgumas zonas do mundo, cujos contratos estão a aproximar-se do fim. É o caso das explorações no Omã e Cazaquistão, que terminam em 2024 - e que, se forem prolongadas, prendem a Gulbenkian ao petróleo até 2050.

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