Metade das embalagens de resíduos perigosos não são recolhidas

Denúncia da associação ambientalista Zero, para quem o Governo está a fazer "uma gestão imprudente" dos riscos associados aos pesticidas comercializados. Em 2016, foram vendidas 9,8 mil toneladas de pesticidas para a agricultura.

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Em 2016, foram vendidas 9,8 mil toneladas de pesticidas em Portugal Paulo Pimenta

A associação ambientalista Zero denunciou este domingo que cerca de metade das embalagens com restos de substâncias perigosas não são recolhidas, considerando que o Governo está a fazer uma "gestão imprudente" face aos riscos associados a parte dos produtos comercializados.

"Se as 9,8 mil toneladas de produtos fitofarmacêuticos (pesticidas) vendidas em 2016 deveriam ser em si mesmas um motivo de enorme preocupação para os cidadãos, não menos preocupante é o facto de as autoridades permitirem que 50% das embalagens destes produtos perigosos não sejam entregues", denuncia a Zero em comunicado.

Em causa está a nova licença atribuída pelo Governo ao Sistema Integrado de Gestão de Embalagens e Resíduos em Agricultura (Valorfito) que estabelece metas "pouco exigentes", que, segundo a associação ambientalista, "não só não têm em conta os riscos destes resíduos perigosos poluírem os solos, a água e atmosfera, mas também contrariam a legislação em vigor".

A Zero analisou os dados disponíveis apresentados pela Sigeru (entidade que gere o Valorfito), referentes ao ano de 2016, e concluiu que as metas permitidas pelo Governo - 50% em 2018 e 60% em 2022 - "são muito imprudentes face aos elevados riscos associados a uma parte significativa dos produtos comercializados".

Segundo a associação, está em causa a gestão de embalagens dos fungicidas (cerca de 56% do volume total de vendas em 2016), dos herbicidas (20% do total) e dos insecticidas e acaricidas (8%). O enxofre, um fungicida de menor perigosidade, de acordo com a Zero, representou cerca de 25% do total das vendas de pesticidas.

De acordo com os dados fornecidos pela Zero, as embalagens para utilização na agricultura que foram colocadas no mercado no ano de 2016, e que foram declaradas pelas 101 empresas que operam como embaladores e ou importadores, totalizaram as 726 toneladas, das quais foram recolhidas apenas 385 toneladas (53% do total), apesar de existir a obrigatoriedade legal de os agricultores e outros utilizadores profissionais de pesticidas procederem à entrega das respectivas embalagens vazias.

Para a Zero, "é mais do que evidente que este é um sistema que não tem sido alvo da devida atenção por parte das autoridades e dos decisores políticos", já que a licença, que começou a vigorar a partir de 1 de Janeiro deste ano, "não deveria permitir que a meta de recolha mínima seja de 50% em 2018 e chegue apenas a 60% em 2022". São objectivos que estão "em contradição absoluta com a legislação que impõe a entrega obrigatória por parte dos utilizadores", pelo que, conclui a Zero, "podemos estar perante uma licença que pode estar ilegal".

Os ambientalistas da Zero exigem assim que os ministérios do Ambiente e da Economia revisitem a licença emitida, de forma a rever as metas estabelecidas que, no tocante à recolha das embalagens que contenham produtos perigosos, devem situar-se num valor próximo dos 100% em 2021.

A Zero defende ainda a criação de "penalizações mais severas" para prevenir o incumprimento da obrigação de entregas das embalagens utilizadas por parte dos cidadãos com habilitação para a aplicação de produtos fitofarmacêuticos de uso profissional, prevendo a perda de habilitação para o efeito.

Nesse sentido, a associação ambientalista sugere que os ministérios do Ambiente e da Economia devam exercer uma "fiscalização mais assertiva", podendo até, em articulação com a Autoridade Tributária e Aduaneira, cruzar informação fiscal com os dados reportados dos fluxos de resíduos, no sentido de se conseguir aferir com maior rigor a actividade da gestão deste tipo de embalagens em Portugal.

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