A maioridade da banca espanhola em Portugal

Com o ponto final no Totta, o Santander mostra que já não precisa da marca nacional do passado para se ligar aos clientes portugueses.

Há uns anos, e por efeito de uma campanha publicitária que fez sucesso, dizia-se em tom de brincadeira a quem queria dinheiro para ir ao Totta. Agora, o Totta vai deixar de emprestar dinheiro, porque vai deixar de existir de vez. Não vem mal ao mundo, ou ao país, que a marca Totta acabe de vez. Até a nostalgia – para quem tenha idade para tal – fica mitigada pelos anos que resistiu ao lado do Santander.

Aliás, o próprio Totta & Açores (o arquipélago depressa ficou pelo caminho após o Santander assegurar a compra do banco) era já o resultado de fusões e aquisições passadas, que envolvem alterações da marca e personalidades como José Henriques Totta, Alfredo da Silva (criador do grupo CUF) e António Champalimaud.

Depois, acabou nas mãos do Santander que, de banco quase irrelevante no mercado nacional, foi crescendo muito à base de aquisições, como a do Banif e do Popular (este de origem espanhola e com presença em Portugal).

O Santander sempre respeitou a marca Totta, por respeito à sua forte ligação aos clientes. Quando comprou o banco, em 2000, manteve a marca independente e só em 2007 juntou as duas (já o Crédito Predial Português, comprado na mesma altura e circunstâncias, desapareceu de vez em 2004).

Agora no topo da pirâmide, com o ponto final no Totta o banco espanhol mostra que já não precisa da marca nacional do passado para se ligar aos clientes portugueses. E esse sinal de maioridade é, para mim, a questão mais importante a reter.

Ao mesmo tempo que se processa esta operação empresarial – e que irá ser gradual ao longo dos próximos meses, segundo o Santander –, o também espanhol Caixabank vai redesenhando os destinos do BPI, do qual é o accionista maioritário desde o ano passado. Entre as mudanças, o Caixabank decidiu estar menos presente, em termos accionistas, no tecido empresarial português: vendeu a posição que detinha na Unicer, a cervejeira que produz a Super Bock, e reduziu para menos de 2% a posição na Nos e na Ibersol, num caminho que deverá levar à retirada total. A mensagem é clara: ao contrário do que se considerava até aqui, estas posições deixaram de fazer sentido, em termos estratégicos, para a instituição. O que mudou entretanto? Pouco ou nada, além dos accionistas do banco.

Temos ainda outro dado, o do reforço de mais um banco espanhol no mercado português. Depois de o Bankinter ter comprado a rede de retalho do Barclays em 2016, agora foi a vez do Deutsche Bank vender os seus balcões ao Abanca Corporación Bancaria. Curiosamente, esta instituição financeira galega é o resultado de intervenções estatais na banca espanhola (com fundos europeus) e um movimento de fusões.

A entrada e reforço destes bancos em Portugal, por sua vez, tem sido acompanhado por um movimento inverso das instituições financeiras portuguesas. A CGD, o maior banco nacional, está a desinvestir, e no meio deste processo está a alienação da rede em Espanha, que custou muito a montar e a sustentar.

A realidade é esta: a CGD ainda é grande em Portugal, mas é cada vez mais um banco regional em termos ibéricos. Já bancos regionais espanhóis estão a ganhar terreno e o Santander tem uma dimensão não só europeia como também mundial.

Bem vistas as coisas, a maioridade do Santander em Portugal simboliza também a maturidade da banca espanhola no mercado nacional.

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