Visionarium está fechado há três semanas e tem futuro incerto

Cinco salas da exposição científica foram encerradas a 11 de Março. Gestão anterior ainda não libertou edifício.

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O Visionarium foi inaugurado em 1998 e desde então tem sido procurado por escolas de vários pontos do país PAULO PIMENTA

O Visionarium – Centro de Ciência Viva do Europarque, em Santa Maria da Feira, o primeiro centro de ciência construído de raiz no país, pode ter fechado de vez as portas ao público. O espaço que, nestes últimos 20 anos, recebeu mais de 1,2 milhões de visitantes tem tido, na última década, problemas de gestão que puseram em risco a viabilidade da exposição científica permanente. Está fechado desde 11 de Março e não se sabe se, ou quando, vai reabrir.

A empresa tecnológica ITCenter (ITC) celebrou — ainda em 2017 — um contrato-promessa de compra e venda do edifício com a Associação Empresarial de Portugal (AEP) — proprietária do espaço — que lhe permitirá explorar o edifício. A ITC substituirá a Insizium — empresa de realidade virtual —, que se tornou gestora do espaço em 2015, e que se encontra, dois anos depois, em processo de insolvência. Mas — no que diz respeito à exposição permanente de ciência — ainda há pontos de interrogação sobre a continuidade deste projecto educativo que acolheu um sem fim de visitas de estudo ao longo destas duas décadas.

Em declarações ao PÚBLICO, Sérgio Castro, CEO da ITC, diz ainda não saber ao certo se a empresa fará um esforço para reabilitar a vertente científica do Visionarium: “Ainda não sabemos o estado das coisas. [O espaço] tem mais de 20 anos, já deve estar degradado”. O CEO acrescenta que a visão da empresa tecnológica para o espaço não passa pelo projecto de ciência viva, mas sim em reabilitar a restante infra-estrutura “para que esta sirva de sede tecnológica” à empresa de software.

Esta incerteza relativa ao espaço, de acordo com Sérgio Castro, passa também pelo facto de a anterior gestora se ter recusado a abandonar o espaço, o que não permitiu uma avaliação da infra-estrutura. “Ainda não conseguimos que o espaço fosse libertado, portanto não sabemos exactamente como aquilo está”, diz o CEO. Sérgio Castro faz questão de salientar que a exposição de ciência continua a ser gerida pela AEP e que o contrato assinado apenas diz respeito à exploração do edifício. O PÚBLICO não conseguiu entrar em contacto com o presidente da AEP, até ao início da noite desta terça-feira.

João Arezes foi assessor de imprensa no Visionarium entre 2002 e 2014 e corrobora a impressão de Sérgio Castro quando este afirma que o espaço se encontra degradado: “Ou existe uma reconversão total, ou aquilo que lá se encontra é manifestamente obsoleto”. João Arezes garante que desde 1998 — inauguração do Visonarium — as cinco salas que constituem a exposição permanente não receberam renovações significativas, algo impensável para um projecto relacionado com a ciência que, como faz questão de salientar, está “em constante inovação”.

Quando confrontado com a possibilidade de encerramento do projecto educativo, o ex-assessor de imprensa lamenta que “um legado fique devassado”, mas assume que o resultado não constitui nenhuma surpresa: “Nos últimos anos [o Visionarium] foi muito mal gerido. A última atribuição [à Insizium] foi a confirmação do fim”.

Emídio Sousa, presidente da câmara de Santa Maria da Feira, vê o contrato entre a AEP e a ITC com bons olhos, dizendo ao PÚBLICO que a ITC é “uma empresa de excelência” que irá “aumentar os seus quadros” e gerar empregabilidade. O autarca admite que, à semelhança do que disse no passado, a câmara “não teria disponibilidade para investir no espaço”, garantindo que a autarquia já possui investimentos em “outros espaços lúdicos”.

Esta mudança de gestão surge depois de a Insizium — empresa de realidade virtual — ter celebrado um contrato de concessão de cinco anos com a AEP. Esse vínculo foi celebrado há, aproximadamente, dois anos e, desde então, o Visionarium funcionou com aparente normalidade. Mas estes problemas de gestão não são novidade: o Visionarium também se viu em apuros em 2014.

Nessa altura o equipamento era gerido pela AEP, que chegou a analisar a hipótese de um processo de restruturação profundo que poderia passar pelo despedimento colectivo dos funcionários e o encerramento do espaço. Não foi em 2014, mas aconteceu agora. O Visionarium está fechado desde 11 de Março, como se pode ler na página do Facebook, na qual não faltam comentários de pessoas descontentes com o facto o facto de não terem sido alertadas para a decisão, apesar de terem, alegadamente, visitas marcadas.

Texto editado por Abel Coentrão

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