Cantora crítica do regime detida quando regressava ao Vietname

Mai Khoi, artista e activista pelas liberdades cívicas no país dirigido pelo Partido Comunista, regressava de uma digressão europeia. Humans Right Watch denuncia a repressão de dissidentes.

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"Damos voz ao indizível", diz Mai Khoi sobre a música que cria com a sua banda, The Dissidents DR

Mai Khoi, cantautora vietnamita célebre no Vietname pelas canções interventivas, foi detida no aeroporto de Hanói quando regressava ao país depois de uma digressão europeia. A detenção, que durou oito horas, parece enquadrar-se num endurecimento da posição do regime vietnamita em relação aos críticos. Segundo um relatório de Fevereiro da organização de defesa dos direitos humanos Humans Right Watch,? há 129 pessoas presas no país por criticarem ou participarem em protestos contra o governo.

Bat Dong, o título do álbum mais recente – a cantora viajara para a Europa para alguns concertos de promoção –, significa “discordância”. Nesse disco, muitas das canções, em que os instrumentos, a língua e a tradição musical vietnamita se cruzam com guitarras e saxofones, com rock, jazz ou folk anglo-saxónico, são críticas das políticas repressivas do Partido Comunista do Vietname. A artista chamou à banda que a acompanha The Dissidents. É composta pelo saxofonista Quyen Thien Dac, nome de referência do jazz do país, e pelo multi-instrumentista Nguyen Duc Minh. Na página de YouTube, classifica a parceria como “uma explosão catártica de humanidade reprimida”.

Sediados em Hanói, Mai Khoi & The Dissidents estão proibidos pelas autoridades de dar concertos no Vietname. “Damos voz ao indizível”, escreve a cantora de 34 anos no canal de YouTube. “Ao contrário de outros músicos, não pedimos permissão para actuar, nem submetemos as nossas letras aos censores.” As críticas que vem fazendo, na música ou em público, denunciando a falta de liberdade de expressão e de circulação dos cidadãos, pô-la há muito no radar do regime. “Já fomos despejados de casa três vezes”, revelou à Reuters Benjamin Swanton, marido de Mai Khoi e cidadão australiano.

Até agora, porém, o estatuto de celebridade respeitada e reconhecida protegera Mai Khoi de acções mais musculadas por parte do regime – em 2016, a cantora candidatou-se espontaneamente, sem sucesso, à Assembleia Nacional. Segundo a Amnistia Internacional, uma acção repressiva mais intensa para com os dissidentes levou vários activistas a fugir do país em 2017. Phil Robertson, da secção asiática da Humans Right Watch, acredita que a repressão se intensificou nos últimos meses. "É a primeira vez que a vemos sujeita ao mesmo tipo de coisas que os dissidentes comuns enfrentam quando tentam regressar do estrangeiro", afirmou ao Guardian. "Julgo que o governo vietnamita sente que os Estados Unidos e outros países estão ocupados com outros assuntos, o que lhes dá espaço livre para caírem sobre os dissidentes como já desejavam no passado."

A República Socialista do Vietname é dirigida pelo Partido Comunista do Vietname desde 1976, ano em que o país foi reunificado na sequência do fim da guerra com os Estados Unidos, declarada três anos antes.

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