Clássico, a Bairrada no seu esplendor

Um branco e um tinto lançados com a chancela de “Clássico” provam o esforço da Bairrada para ocupar um lugar mais alto no reconhecimento público. Dois vinhos magníficos que vale a pena conhecer.

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Gonçalo Villaverde

Chamam-se Clássico e, ao contrário das dúvidas que habitualmente depositamos nas designações pomposas, há na categoria que supostamente ocupa o primeiro lugar na hierarquia dos vinhos da Bairrada não apenas verdade como muito sentido. Pedro Soares, presidente da Comissão Vitivinícola Regional, percebe que esse sentido e essa verdade conferem aos Clássico um poder de distinção e esforça-se por “andar com eles ao colo”. Percebe-se. Que a Bairrada é pátria de tintos de classe superior, não há dúvidas; que a Bairrada carece ainda de reconhecimento pelo grande público, também não. A aposta nos Clássico é uma forma de puxar a região para cima. Os dois exemplares da categoria recentemente lançados explicam porquê.

Um branco, o Messias Clássico de 2012, e um tinto, o Aliança Baga by Quinta da Dôna 2011. Ambos extraordinários e a preços muito sensatos para a sua classe. Cada um respeitador das regras estabelecidas para a categoria Clássico e que, no essencial, se limita a recuperar práticas tradicionais da Bairrada. No caso dos tintos, metade do lote tem de ser assegurado pela casta rainha da região, a Baga, e os vinhos têm de passar por estágios mínimos de 30 meses, 12 dos quais em garrafa. Para os brancos, é imperativo o uso de castas regionais registadas no estatuto da região antes de 2002 (como a Cercial, Arinto, Bical, Rabo de Ovelha ou Maria Gomes) e um estágio mínimo de um ano, metade do qual em garrafa.

A aposta nas castas tradicionais reforça a identidade da região e o tempo de estágio modela e dá complexidade a vinhos que, por consequência dos solos e do clima, são taninosos ou com elevados teores de acidez. Na Bairrada clássica, não passava pela cabeça dos produtores venderem os seus tintos no ano seguinte ou dois anos depois da vindima — sabiam que não estavam prontos. O desafio dos Clássicos que Pedro Soares e a comissão regional querem levar a mais produtores segue essa regra simples e sensata — embora mais custosa em termos financeiros.

O branco produzido pela Messias (uma empresa que está numa notável fase de renascimento) nasceu de um lote de Cercial e Arinto, revela um aroma finíssimo, muito floral e com uma nota cítrica atraente e é uma delícia na boca (20 euros/93 pontos). Delicado, mas com profundidade e nervo, cheio de subtilezas na fruta ou na marca da madeira, é um branco que dispensa comidas fortes. Embora a sua acidez e secura no final de prova sejam prova de garra, este branco com um volume alcoólico inferior a 12% é bom mesmo para se mastigar por si só ou para fazer par com peixes brancos grelhados ou marisco.

O tinto produzido pela Aliança com base num lote exclusivamente de Baga proveniente da Quinta da Dôna é um grande vinho (17 euros/95 pontos). Com aromas de frutos silvestres ainda muito vivos e intensos e a marca da barrica muito bem integrada, é um daqueles Bagas que mostram tudo o que esta casta vale — o ano de 2011 foi pródigo para a sua sensibilidade à maturação no final do ciclo vegetativo. Um tinto que enche o palato, vibrante na sua acidez e mineralidade, longo e harmonioso nas suas principais componentes. Um grande tinto a justificar a condição: um Clássico puro.

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