Olhos e ouvidos abertos à perfeição

Assim como há gente disposta a pagar fortunas por jóias ou relógios raros, há quem invista muito dinheiro em equipamentos de áudio e vídeo.

Na passada semana falámos aqui de visão e audição, a propósito de umas letras. Agora, para intervalar, voltamos a elas por causa de sons e imagens e a propósito do que se convencionou chamar alta definição. Para quem não está familiarizado com o tema, convém explicar que em várias cidades do mundo, ao longo dos anos, se realizam feiras e certames com o objectivo de mostrar aos visitantes (potenciais compradores ou revendedores) o “último grito” nesta matéria. Em Portugal, já com pergaminhos firmados pelo tempo, temos o Audioshow, organizado pela revista Áudio e Cinema em Casa e desde há alguns anos “residente” num hotel lisboeta do Alto de Santo Amaro (o Pestana Palace), tirando partido de várias das suas salas. Pois este fim-de-semana, de sexta 16 a domingo 18, teremos mais um. E lá estarão, como sempre sucede, os mais recentes modelos de marcas que continuam a aperfeiçoar-se para levar sons e imagens ao pico da perfeição; e isso não tem limites, a não ser os do próprio “estado da arte” em cada momento.

Em 2013, já lá vão cinco anos, numa crónica chamada “Afinal vivemos em baixa resolução”, escreveu-se aqui que, em “tempos de crise, em que o consumo necessariamente se retrai (…) falar disto é quase como falar de água em Marte.” Mas como a crise já não é o que era, e como o consumo de algum modo despertou, ninguém dará o tempo perdido por pensar nestas coisas. No editorial da edição de Março-Abril da revista Áudio e Cinema em Casa, Jorge Gonçalves, o seu director, apelando à participação no certame, diz: “Como em tudo na vida, se a fasquia não for colocada suficientemente alta, a qualidade não atinge níveis superlativos, ou seja, sabendo que em frente aos seus equipamentos vão estar muitos ouvintes exigentes e conhecedores, claro que quem prepara os sistemas de áudio se esforça o mais possível para atingir as suas elevadas expectativas.” Para quem não sabe como isto funciona, explica-se facilmente. Nas várias salas, correspondentes às marcas representadas, fazem-se demonstrações. Os participantes, que vão ocupando as cadeiras disponíveis, guardam silêncio em cada demonstração, continuando ali ou circulando para outras salas, para comparar sons, modelos e preços. Não há, que desculpem os mais dados às coisas da robótica, aparelhos que falam (embora a moda dos comandos por voz esteja a alastrar aos meios audiófilos e cinéfilos caseiros) ou bonecos a fazer piruetas, há tão-somente sons recriados por conjugações de aparelhos de várias formas e feitios, uns mais dados às ousadias do design, outros replicando uma sobriedade antiga mas tecnicamente renovada. Há colunas que parecem tentáculos de polvo colocados na vertical, outras que lembram, em formato gigante, a concha de um náutilo, outras ainda que aparentam elegantes armários de múltiplos compartimentos, mas o que importa em todas elas é o som. É aí que os fabricantes se apostam e se esmeram, ligando diferentes aparelhos (gira-discos de vinil, leitores de discos ópticos, prévios, amplificadores, etc.) com cablagens adequadas, de modo a dar à pureza do som a primazia.

O mesmo com a imagem: televisores e projectores, com topos-de-gama a ultrapassar topos-de-gama, competem para proporcionar a melhor imagem à retina dos interessados. Pode haver quem ache isto um desperdício, mas a alta-fidelidade, em som ou imagem, é sobretudo uma aposta que corresponde a um prazer, o dos audiófilos e cinéfilos (que procuram, nas suas salas, replicar o ambiente, sonoro ou visual, das salas de concertos e de cinema). E assim como há gente disposta a pagar fortunas por jóias ou relógios raros, há quem invista muito dinheiro em equipamentos de áudio e vídeo. Nem sempre é preciso, há muito boas aparelhagens ao alcance de bolsas menos recheadas, mas também há jóias como estas, ali ouvidas em 2013: um amplificador a 28 mil euros; um pré-amplificador a 38 mil; um leitor universal desde 6 mil; um conversor digital-analógico, ou DAC, a 28 mil; um media player a 16 mil; um gira-discos a 35 mil; umas colunas por 116 mil; e um condicionador de corrente a cerca de 8 mil. Isto fora os cabos. Total: 300 mil euros, o preço de uma casa. Mas o som que saía daquele conjunto era indescritível. E nem que seja pelo prazer de uma audição única, uma visita ao Audioshow é irrecusável. Experimentem.

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