A silhueta e o olhar das mulheres macondes

Manuel Roberto
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Manuel Roberto

Há na pose hirta das mulheres macondes a silhueta das figuras que cruzam os caminhos de Cabo Delgado ou do Niassa com cargas na cabeça em perfeita harmonia. Vêem-se ao longe, numa mistura de graça e sofrimento que lhes reforça a dignidade e lhes confere uma aura de determinação e coragem. Fazem-no hoje para garantir as lenhas ou para trazer a comida, como outrora o fizeram levando munições ou víveres para os homens que combatiam na frente da guerra colonial. Caminhar, hirtas, com pesos na cabeça, num equilíbrio perfeito, decorando as orlas dos caminhos de argila, parece ser uma das componentes mais humanas da sua condição. Pelo menos até ao momento em que as podemos olhar nos olhos.

Há na candura do olhar das mulheres macondes muitas histórias de uma vida dura, mesmo que orgulhosamente assumida como normal. Os olhos já não brilham entre as tatuagens que outrora decoravam o seu rosto. Mas expressam ainda a mesma força, como se a cada olhar se fizesse prova dos pergaminhos de um povo forte, habituado às agruras da selva ou a séculos de luta contra colonizadores brancos ou escravizadores ajauas. Na luz dos olhos das mulheres macondes não há lampejos de subserviência, de arrependimento nem de complacência perante o fugaz espanto dos estrangeiros que os olham. Há, sim, uma força inexplicável que resulta da força de uma cultura originada por um povo ousado e orgulhoso.

Muitas das raízes profundas da memória e da essência maconde diluem-se hoje na urbanização ou na normalização. Em Mueda, como no planalto que circunda essa localidade histórica, o mundo mudou e diluiu o mundo ancestral dos macondes. É ainda assim na orla dos caminhos vermelhos que as silhuetas das mulheres de olhares densos e carregados nos permitem experimentar a maravilha da diversidade humana. Quem vê aqueles movimentos no final da tarde, quem olha nos olhos uma maconde não pode, não deve esquecer. Há magnetismos, forças e gravidades nos seus olhares que calam fundo. Esquecê-los seria simplesmente um estúpido desperdício. Manuel Carvalho

Manuel Roberto
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