Cardeal-patriarca de Lisboa diz que populismos estão a "ferir as democracias"

D. Manuel Clemente participou numa conferência sobre a Europa.

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Nelson Garrido

Os populismos "são sempre um problema, são perigosos" e "estão a ferir as democracias", embora constituam também um "desafio à política e aos partidos políticos tradicionais", defendeu esta quarta-feira o cardeal-patriarca de Lisboa.

D. Manuel Clemente, que falava aos jornalistas após ter participado numa conferência sobre os desafios da Europa, organizada pela Caixa Geral de Depósitos (CGD), destacou também que a Europa tem ainda um longo caminho a percorrer e que isso passa por "saber aproveitar o que de melhor pode herdar do passado.

"Os populismos são sempre perigosos, porque são uma simplificação das coisas. São também um enorme desafio à política tradicional e às formações políticas por se ligarem cada vez mais e melhor aos problemas reais das populações, as que estão e as que chegam [migrantes], porque quando isto não acontece, elas precisam de outras respostas. Os populismos dão respostas rápidas e simplistas, que conseguem rápidas adesões e são muito perigosas e estão a ferir as democracias", argumentou.

Para Manuel Clemente, exemplo da herança do passado são as sete décadas de paz que se vive na Europa: "um bem imenso", frisou.

"Temos de avançar com o melhor que herdamos no passado, que é muita coisa, como as sete décadas de paz. A Europa não gozou muitos períodos longos de paz no passado. É um bem imenso", destacou o cardeal patriarca de Lisboa, realçando os ganhos em áreas como a mobilidade, finanças e juventude.

"Deu, para muitos de nós, uma facilidade de nos deslocarmos inter-fronteiras que nunca tínhamos conhecido, àqueles países que também estão na moeda única, com as facilidades que isso traz, na cultura e até do [programa] Erasmus, que já criou uma geração europeia como nunca tinha havido", salientou.

A base para uma nova etapa na Europa comunitária, segundo Manuel Clemente, tem de partir dos ganhos já alcançados e não de qualquer outra, "porque isso seria regressar a uma pré-história europeia que não interessa".

Para o cardeal-patriarca de Lisboa, outro dos problemas da Europa comunitária é a questão das migrações, "que traz muitas populações desesperadas à Europa e que é preciso acolher e integrar, mas que também provocam reacções de rejeição e de receio".

"Depois, há o problema dos terrorismos, dos fundamentalismos, da insegurança. Há um conjunto de problemáticas hoje que podem abalar esta construção europeia. Devemos protegê-la, aprofundá-la e corresponder às novas problemáticas que se põem, com a consciência de que, ou vamos todos juntos, ou não sobra para ninguém", sustentou.

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