Apple muda parte da base de dados para a China e alarma activistas

A empresa vai passar a armazenar a informação nas contas de iCloud de utilizadores chineses na China, a pedido das autoridades.

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A alteração afecta utilizadores a viver na China continental Reuters/KIM KYUNG-HOON

O Governo chinês vai ter o acesso facilitado a parte da base de dados da Apple – isto inclui mensagens de texto e emails de utilizadores. Para respeitar os requisitos das autoridades locais, a empresa vai passar a armazenar a informação nas contas de iCloud de utilizadores a viver na China, e as chaves que a encriptam, em bases de dados no próprio país.

A iCloud é o sistema de armazenamento em nuvem da Apple que permite aceder via Internet a ficheiros armazenados nos servidores da empresa. A mudança está a preocupar activistas de direitos humanos que acham que a informação vai ser utilizada para perseguir quem é crítico do regime político naquele país.

Antes da actualização, as chaves informáticas que permitiam aceder aos dados na nuvem estavam nos servidores da empresa nos EUA. Isto obrigava o governo de qualquer país a ter de pedir às autoridades americanas o acesso a informação. Agora, as autoridades chinesas podem-se guiar pelo seu próprio sistema legal para aceder à iCloud. O país já controla grande parte da informação que circula nas redes sociais. Em Julho, por exemplo, após a morte do Nobel da Paz e dissidente chinês Liu Xiaobo, mensagens com o nome completo do activista, imagens de apoio, ou combinações das palavras “Xiabo” e “morte” foram eliminadas das redes sociais, quer fossem escritas em inglês ou chinês.

A Apple justifica a mudança devido às novas leis chinesas que obrigam todos os serviços oferecidos a cidadãos chineses a serem operados por empresas estatais e a armazenarem os seus dados no país. “Tentámos evitar que a iCloud estivesse sujeita a estas leis, mas não tivemos sucesso”, lê-se num comunicado da empresa. Cancelar o serviço não é opção: a Apple acredita que tirar o iCloud da China iria resultar em menos privacidade e segurança para os utilizadores chineses. A gigante tecnológica enviou notificações aos utilizadores afectados dias antes da mudança, dando-lhes tempo para desactivar o serviço ou retirar informação armazenada na iCloud. 

Em 2004, quando a Yahoo entregou dados privados dos utilizadores chineses ao Governo, estes foram utilizados para seguir defensores da democracia a residir no país. Um dos afectados foi o jornalista Shi Tao, que foi condenado a dez anos de prisão por revelar segredos de Estado. Em declarações à agência Reuters, Jing Zhao, um activista dos direitos humanos na China (e pequeno accionista da Apple), disse que previa casos piores após o Governo chinês ter acesso facilitado à informação da iCloud.

A Apple reforça que apenas vai divulgar dados perante pedidos válidos das autoridades e que a nova mudança não dá à China qualquer “atalho”. Porém, o sistema legal chinês funciona de forma diferente do norte-americano: por exemplo, um tribunal não tem de autorizar os mandados exigidos pelas autoridades chinesas. “Mesmo em fases precoces de uma investigação criminal, a polícia tem poderes extensos para recolher provas”, explicou à Reuters Jeremy Daum, um advogado e investigador do centro de advocacia da Universidade de Yale na China.

A alteração apenas afecta utilizadores a viver na China continental (isto não inclui Macau, Hong Kong e Taiwan) e que tenham escolhido a China como seu país de residência quando criaram a sua conta da Apple. O novo servidor da Apple na China vai ser mantido em parceria com a Guizhou – Cloud Big Data Industry, uma empresa estatal chinesa.

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