Lista exaustiva das ideias espectaculares de Rui Rio

Destas 22 propostas, quantas poderiam ser subscritas pelo PS de António Costa? Vinte e duas.

Ontem dediquei-me a analisar em detalhe o discurso programático de Rui Rio no encerramento do congresso do PSD. Eis a lista exaustiva daquilo que ele propôs ao país: lutar contra a pobreza; combater a fraca natalidade; apoiar a terceira idade; combater a desertificação do interior; promover a sustentabilidade da Segurança Social; promover a solidariedade intergeracional; defender os princípios do Estado social (e a sua “dimensão humana”); combater a deterioração do Serviço Nacional de Saúde; implementar cuidados hospitalares domiciliários; reforçar a rede nacional de cuidados integrados e de cuidados paliativos; garantir um SNS sustentável e moderno; melhorar as escolas e as condições de ensino e aprendizagem; promover a ascensão social; apostar numa política para a infância que promova a igualdade de oportunidades; alargar o acesso ao ensino superior; apostar numa sociedade do conhecimento e inovação; apostar numa economia mais competitiva; insistir na ligação das empresas às universidades; levar a cabo políticas públicas promotoras do investimento, da poupança, do emprego de qualidade e capazes de induzir o crescimento económico; proporcionar aos portugueses um nível de vida idêntico ao da média da União Europeia; descentralizar (a “longo e médio prazo”); olhar para as franjas mais abandonadas do interior.

Destas 22 propostas, quantas poderiam ser subscritas pelo PS de António Costa? Vinte e duas. Quantas poderiam ser subscritas pelo CDS de Assunção Cristas? Vinte e duas. Quantas poderiam ser subscritas pelo Bloco de Esquerda de Catarina Martins? Vinte e duas. Quantas poderiam ser subscritas pelo PCP de Jerónimo de Sousa? Vinte e duas. É curioso que Rui Rio tenha prometido no congresso “resistir ao discurso fácil e politicamente correcto”, porque aquilo que nos ofereceu na sua intervenção programática foi um conjunto de banalidades que merecem a concordância de qualquer pessoa, de Marcelo Rebelo de Sousa a Arnaldo Matos, passando pela Miss Portugal. Rui Rio disse também: “Não é preciso inventar diferenças, as que existem já são suficientemente marcantes para todos nós nos distinguirmos.” É mesmo? A mim parecer-me-ia útil arranjar algumas, porque até agora vi nenhuma.

Aliás, não foi só no seu último discurso. O primeiro foi igual. Rui Rio falou a maior parte do tempo para dentro do PSD, mas no final deixou algumas propostas para o país: inverter o distanciamento entre cidadãos e partidos; reformar a justiça para obter mais celeridade, transparência e melhor qualidade legislativa; reformar o Estado e optimizar os seus recursos; descentralizar e desenvolver o interior; reforçar a respeitabilidade das instituições; reforçar os direitos e garantias dos cidadãos; combater a demagogia. Destas sete propostas quantas poderiam ser subscritas pelo PS de António Costa? Sim, são sete, e dispenso-me de incomodar o leitor com mais uma ronda pelos partidos e pela Miss Portugal.

As intenções que Rui Rio manifesta constam de qualquer problema partidário desde 1974, e podem ser resumidas em quatro palavras: “Queremos um país melhor.” Obrigadinho. A questão não está na qualidade dos desejos, porque todos somos óptimos a desejar, mas na forma como se concretizam, tendo em conta a limitação dos recursos e os constrangimentos políticos e sociais do país. E sobre isso Rio disse nada. Se não quer ser acusado de ser o António Costa cor-de-laranja, convinha que se esforçasse um pouco mais.

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