Como é que os morcegos-vampiros vivem só com sangue

Identificadas características genéticas que explicam como é que estes mamíferos voadores conseguem sobreviver com uma dieta tão especial.

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Morcego-vampiro comum, ou Desmodus rotundus Brock Fenton

Se quer saber como é os morcegos-vampiros conseguem sobreviver com uma dieta que consiste – como toda a gente sabe – exclusivamente de sangue, a resposta é simples. Está nos seus genes.

Pela primeira vez, os cientistas sequenciaram o genoma completo de um morcego-vampiro e descobriram que este mamífero voador tem numerosas características genéticas que o ajudam a viver com uma fonte de alimentos exótica que tem desvantagens nutritivas e o expõe a agentes patogénicos transmitidos pelo sangue.

Neste trabalho, os investigadores compararam o genoma do morcego-vampiro comum (o seu nome científico é Desmodus rotundus) com o genoma de morcegos que comem néctar, frutas, insectos e carne. Também examinaram o ADN de microorganismos nas suas fezes. Este morcego e outras duas espécies de morcegos – o morcego-vampiro-de-perna-peluda (Diphylla ecaudata) e o morcego-vampiro-de-asas-brancas (Diaemus youngi) – são os únicos mamíferos que se alimentam apenas de sangue.

O morcego-vampiro comum, habitante nocturno de grutas com uma envergadura de asas de 18 centímetros, vive em certas zonas do México e da América Central e do Sul. Alimenta-se do sangue de gado, como vacas e cavalos. Aterra perto das suas presas escondido pela escuridão, anda pelo chão e depois alimenta-se enquanto os animais estão a dormir, usando os dentes afiados como navalhas para furar a pele e uma língua comprida para lamber o sangue que escorre.

“Decidimos estudar esta espécie porque tem uma dieta ‘extrema’, no sentido em que requer muitas adaptações do organismo para viver disso”, diz a autora principal do estudo, Lisandra Zepeda, uma estudante de doutoramento da Universidade de Copenhaga (Dinamarca) enquanto fazia o artigo científico agora publicado na revista Nature Ecology & Evolution. “O sangue é uma dieta que coloca desafios, uma vez que fornece níveis muito baixos de vitaminas e de hidratos de carbono e muitas proteínas, sais e resíduos.”

A equipa identificou no genoma elementos que aumentam a resposta imunitária do morcego-vampiro e as suas defesas contra vírus, para lidar assim com agentes patogénicos que se escondem no sangue. Também foram identificados genes envolvidos na metabolização de vitaminas e gorduras que podem ajudar este morcego a lidar com os aspectos nutricionais únicos da sua dieta à base de sangue.

Para algumas pessoas, os morcegos são criaturas que metem medo, associados a vampiros ficcionais como o Drácula. “Sim, são criaturas sujas ou criaturas fantásticas, o que quer que lhes queiramos chamar. A minha opinião pessoal sobre eles é que é muito mau as pessoas demonizarem-nos dessa forma”, considera Lisandra Zepeda. “Devíamos ficar fascinados por eles, não assustados. Na verdade, são bastante giros: uma beleza abstracta. Claro que, se for agricultor, não quer que mordam as suas vacas, mas eles já cá andavam muito antes de nós.”

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