Os excluídos digitais

Virar as costas ao mundo tecnológico não será a solução. Passa antes por integrar as tecnologias e os devices nas escolas, nas aulas, na pedagogia.

O ministro da Educação de França anunciou que os telemóveis serão banidos de todas as escolas primárias, preparatórias e secundárias. O ministro justificou esta medida como sendo fundamental para manter a "saúde pública". Quem ache que me refiro às aulas desengane-se! Essas já são “phone free” há algum tempo. Refiro-me sim aos tempos de paragem, como intervalos ou períodos de almoço. A partir de Setembro estes miúdos recuam 20 anos no tempo e serão obrigados a fazer amigos. Daqueles a sério! Em carne e osso. Terão que jogar ao elástico ou à sirumba. Terão que andar de skate ou jogar futebol. Trepar a uma árvore ou até mesmo, nos casos mais extremos, esfolar um joelho. Imagine-se!

Goste-se ou não da medida, questione-se ou não, o que é facto é que de acordo com um estudo publicado pela London School of Economics, as escolas que proibiram os smartphones viram os resultados melhorarem 6,4% em jovens de 16 anos. Mais ainda, não só a performance dos alunos melhorou como houve um considerável aumento de resultados nos estudantes que habitualmente têm classificações mais baixas.

No entanto proibir o uso de tecnologia parece-me ser um paradoxo, pois parece-me evidente que a tecnologia irá desempenhar um papel central na maioria do nosso quotidiano, tanto que cerca de 65% das crianças que entram hoje na escola primária irão ter profissões que hoje nem sequer existem. E serão todas elas, pasmem-se uma vez mais, baseadas em competências tecnológicas.

Eu percebo esta medida do governo francês, também tenho filhos e acreditem que na maior parte das vezes só me apetece dar uns sopapos nos percursores dos iPhones, iPads, Netflixes, YouTubes e etc... mas é o que é. Não podemos fechar os olhos aos nossos filhos, nativos digitais, e aos aparelhos que cruzam as nossas e as vidas deles e que já fazem parte dos hábitos e costumes.

Penso até que virar as costas ao mundo tecnológico não será a solução. A solução passa por integrar as tecnologias e os devices nas escolas, nas aulas, na pedagogia. Mas percebo que seja difícil abolir o ensino medieval e o corpo docente envelhecido que encontramos nas escolas francesas (e noutras!) de modo a modernizar o ensino.

A grande descoberta estará no equilíbrio entre uma escola tecnológica que fomente um ou outro joelho esfolado.

O autor escreve em desacordo ortográfico.

Designer; Director do IADE-Universidade Europeia

carlos.rosa@universidadeeuropeia.pt

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