“Anomalias” obrigam a rever por telefone respostas de exame para médicos

Há “vários relatos” de médicos que declaram ter sido contactados pela ACSS, diz ordem. Tutela refuta: apenas contactou duas candidatas cujas provas tinham a "mesma numeração”.

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À Secção Regional Sul da Ordem dos Médicos chegaram “vários relatos” de médicos que dizem ter sido contactados, esta semana, por telefone pela Administração Central de Sistemas de Saúde (ACSS) para esclarecer aquilo que em Novembro responderam na Prova Nacional de Seriação — o exame de escolha múltipla que dá acesso à especialidade médica, conhecido como exame Harrison. A ACSS diz que apenas contactou duas candidatas cujas provas “apresentavam anomalias e a mesma numeração” para confirmar que a autoria das respectivas folhas de resposta era a mesma que constava no registo. 

As denúncias que chegaram à ordem contestam esta versão. “Nós temos vários colegas a telefonar para cá a dizer que foram contactados”, diz o presidente da secção sul, Alexandre Valentim Lourenço. Segundo estes relatos, afirma, funcionários da ACSS telefonaram a médicos questionando-os sobre que respostas tinham dado a perguntas de escolha múltipla da prova. “Queriam saber que cruzes é que eles queriam ter posto naquela situação.”

Já a ACSS afirma em comunicado que, ao verificar que duas folhas de resposta tinham “anomalias e a mesma numeração”, telefonou para as duas candidatas, solicitando a cada uma “que confirmassem a forma de apresentação das respostas” e que confirmassem também “algumas que haviam dado”. Para a tutela, este procedimento permite “inequivocamente” e “com toda a margem de segurança, garantir que, de facto, a autoria das respectivas folhas de resposta era a que resultava do arquivo” que é criado após a realização da prova. 

Vamos por partes. Sabendo que mais de 2600 candidatos à especialidade médica prestaram provas a 16 de Novembro e o exame é feito sob anonimato, é necessário numerar as folhas de respostas. A cada uma é associado um número. Este é replicado no talão a picotado, que no final da prova é destacado e guardado. As provas são depois corrigidas através de leitura óptica. Este sistema cruza as respostas dadas com uma chave de correcção definitiva, que não foi ainda tornada pública — apenas a chave provisória é neste momento conhecida.

Se este método informático de correcção detectar erros, diz a ACSS, “na medida em que as respostas não são claras (caso vulgar: candidato risca resposta com apenas um traço quando devem ser dois)” é necessária em último caso “a leitura manual das folhas”, sob anonimato. Quando isso acontece, garante a tutela, “nenhuma resposta é passível, nem poderia ser, de alteração na medida em que as mesmas já foram previamente digitalizadas”.

"Durante 30 anos nunca houve nenhum problema"

As denúncias que chegaram à Ordem dos Médicos circulam também nas redes sociais. Alexandre Valentim Lourenço diz que durante esta sexta-feira recebeu chamadas de colegas que, tendo visto publicações no Facebook, “se sentem lesados”. 

“Isto é estranhíssimo”, diz o responsável. A prova tem um regulamento onde estão definidos os critérios segundo os quais os estudantes devem fazer a correcção das respostas quando se enganam e as situações em que essas respostas são consideradas nulas. “Durante 30 anos nunca houve nenhum problema”, afirma Alexandre Valentim Lourenço, que alerta mesmo para a possibilidade da prova vir a ser impugnada.

Também a Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM) pediu esclarecimentos junto da ACSS, depois de ter recebido mensagens de vários recém-diplomados com o mesmo relato. “A ser verdade, parece-nos grave”, considera o presidente, Edgar Simões, que alerta para o facto de não ter recebido “qualquer denúncia directa de nenhum visado”, tendo sido sempre por via de terceiros.

As listas com a ordenação e classificação provisória dos candidatos às especialidades médicas devem ser afixadas até 7 de Março, de acordo com um aviso publicado em Agosto em Diário da República. Depois de uma semana para reclamações, a pauta final é publicada até 29 de Março.

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