E os melhores do ano no vinho português são...

Um balanço, mais ou menos ficcionado, do ano de 2017 no que toca aos vinhos. Bem-vindos à gala dos FWines.

Foto
Pedro Cunha

Chegou, finalmente, o grande momento: a entrega dos prémios para os melhores do ano no vinho, os FWines (“F”, de Fugas). É o momento mais aguardado pelos homens e mulheres do vinho em Portugal. A gala junta mais de 700 convidados, no salão dos Bombeiros de Vinhais, e pode ser vista em todo o mundo através do site da Fugas. Para evitar pressões de última hora, vou anunciar os vencedores a partir de minha casa, em Vila Real.

O salão dos Bombeiros de Vinhais está equipado com um grande ecrã e a instalação recente de fibra óptica naquele concelho transmontano garante uma ligação segura e rápida. O jantar — truta de escabeche e butelo com cascas — será servido pelo Solar Bragançano, do meu amigo Desidério. É, de todos os restaurantes transmontanos, o mais pontuado no TripAdvisor. Os vinhos que vão ser servidos foram os mais pontuados ao longo do ano pela equipa da Fugas.

A gala conta com o afecto do Presidente da República e tem o patrocínio da Sogrape e do Continente. A animação musical entre cada prémio é assegurada, à vez, por Pedro Abrunhosa, Pierre Aderne e Jorge Palma, três grandes apreciadores de vinho.

Vamos então conhecer as personalidades que mais se destacaram no ano de 2017 no sector do vinho em Portugal.

Produtor do ano. Os candidatos são: Sogrape, Adega Cooperativa da Ventosa, Aveleda e Ermelinda de Freitas. E o vencedor é…: Sogrape. Uma distinção que premeia um ano em grande da empresa da família Guedes. Pela primeira vez, o seu vinho-ícone, o Barca Velha, da colheita de 2008, foi distinguido com 100 pontos, o máximo possível, pela revista norte-americana Wine Enthusiast.

(Pedro Abrunhosa sobre ao palco, cerra a mão, vira-a para si e bate duas vezes no peito: ‘Parabéns Fernandinho. Biba o Porto!’. O prémio é entregue ao CEO da Sogrape, Fernando Guedes, pela editora da Fugas, Sandra Silva Costa. Todos os prémios vão ser entregues por ela, para a cerimónia fluir melhor.)

Produtor Revelação do ano. Para esta categoria, escolhi a Portugal Boutique Winery, Dirk Niepoort, Vítor Claro e Rosa Santos Família. Mais uma vez, a minha escolha vai para Dirk Niepoort. É a quarta vez que conquista este prémio. A capacidade criativa de Dirk parece inesgotável. Em 2017, Dirk voltou a surpreender com o lançamento de uma deliciosa cerveja artesanal e de um fabuloso vinho com extrato de chá, o Vinde A Mim Que Vos Dou Chazinho, um branco minhoto da colheita de 2016.

Enólogo do ano. Os candidatados são Susana Estéban, Sandra Tavares da Silva, Jorge Serôdio Borges e Jorge Moreira. Um quarteto de luxo, por sinal todos grandes amigos e da mesma geração. O vencedor é Sandra Tavares da Silva. É impossível resistir ao seu charme e simpatia. Além de ex-modelo, é uma talentosa enóloga. (“Sandra, você é uma diva, uma inspiração cósmica. Amo você e os seus vinhos”, diz Pierre Aderne, antes de começar a dedilhar o seu violão.)

Enólogo revelação. Nomeados: Sandra Tavares da Silva, Susana Estéban, Jorge Moreira e Jorge Serôdio Borges. Quatro grandes amigos e quatro nomes incontornáveis que muito têm contribuído para a subida da qualidade e da visibilidade internacional dos vinhos portugueses. Desta vez, o prémio vai para… Sandra Tavares da Silva, como reconhecimento pelos belos vinhos que está a fazer na propriedade da família, a Quinta de Chocapalha, na região de Lisboa.

Melhor Comissão Vitivinícola Regional. Os nomeados são: IVDP, Comissão dos Vinhos Verdes, Comissão da Bairrada e Comissão de Lisboa. E o vencedor é a Comissão dos Vinhos Verdes. Pelo trigésimo ano consecutivo, os vinhos minhotos registaram aumentos colossais nas exportações. As estatísticas não enganam: o mundo está rendido aos brancos de Alvarinho e de Loureiro, com e sem açúcar, e também à clarividente estratégia do presidente da comissão, Manuel Pinheiro. Em Lisboa, o seu nome começa já a ser falado para substituir Manuel Cabral à frente do IVDP. O único óbice é não ser maçon, mas tem a seu favor o facto de a sede dos vinhos Verdes também ficar no Porto e não muito longe do IVDP. É só cruzar umas ruas. Mas a última palavra pertence a Rui Moreira, o presidente da Câmara do Porto e mentor e patrono da Essência do Vinho, o grande evento do país. Nome de feira que também é uma empresa, empresa esta que publica a Revista de Vinhos e que trabalha para várias comissões de viticultura, tal como outras revistas — e que mal há nisso?

Melhor hipermercado para vinhos. Nomeados: Pingo Doce, Lidl, Intermarché e Continente. A boa situação financeira que o sector do vinho atravessa em Portugal deve-se, em grande parte, à moderna distribuição, que tem vindo a subir os preços, sem prejudicar as vendas, e a pagar a 60 dias. O vencedor é o Continente, cujo vinho Contemporal é um verdadeiro sucesso e uma grande alavanca para todos os outros vinhos que a empresa do grupo Sonae (proprietária do PÚBLICO) comercializa.

Melhor Vinho Tinto. Nomeados: Pêra-Manca 2013, Sidónio de Sousa Garrafeira Tinto 2011, Herdade do Peso Ícone Tinto 2014 e Escondido 2012. Neste caso, a escolha é pacífica: Escondido 2012. Um vinho raro e enigmático, como o próprio nome sugere, e muito atlântico. Mistura bem portuguesa de Merlot, Cabernet Sauvignon, Touriga Nacional e Syrah, custa 145 euros, muito mais do que qualquer grande vinho da Bairrada, do Dão ou do Alentejo. Uma grande vénia ao produtor, Aníbal Coutinho.

Melhor Vinho Branco. Nomeados: Anselmo Mendes Parcela Única 2015, Pai Abel 2015, Casa da Passarella Vinha Oliveira Encruzado 2014 e Vinde A Mim Que Vos Dou Chazinho 2016. E o vencedor é… Vinde A Mim Que Vos Dou Chazinho 2016. (“És o maior, Dirk. És a Meryl Streep dos vinhos, cara...”, ouve-se João Roseira a gritar ao fundo do salão.) Ao nariz, é um branco intrigante. Na boca, deixa-nos sem palavras. Um dos melhores e mais originais brancos de Dirk Niepoort. Só é pena custar tanto: 250 euros. Mas, se pensarmos nos preços que atingem os grandes brancos da Borgonha, até nem é caro.

Melhor jornalista de vinhos. Os nomeados são: Edgardo Pacheco, Luís Lopes, Maria João Almeida e João Paulo Martins. (“Vais escolher o João Paulo Martins? É um bocado altivo e convencido”, tinha comentado um amigo quando, uma hora antes da gala começar, partilhei com ele as minhas escolhas. “É mais timidez do que outra coisa”, contrapus. “E porque não te escolhes a ti próprio? Até recebes muitos likes no Facebook”, atirou-me ele. “Achas? É verdade que a vida está para os descarados...”, anuí. “Fazes uma declaração de interesses, a dizer que, deontologicamente não fica bem dares um prémio a ti próprio, mas que o fazes de boa fé”, continuou. “Não, já basta produzir vinho no Douro e escrever sobre vinhos na Fugas”, e encerrei o assunto.) O jornalista que mais se distinguiu em 2017 foi… João Paulo Martins, por ter publicado mais um guia-missal dos melhores vinhos portugueses. Por isso é que lhe chamam “Papa”!

(risos no salão)

Melhor publicação de vinhos. Nomeados: Revista de Vinhos, Paixão do Vinho, Vinho-Grandes Escolhas e Evasões. O vencedor é… Vinho-Grandes Escolhas. (“Yes!”, grita João Geirinhas, o director da área de negócios da revista)

Peço desculpa, acho que me enganei. A Vinho-Grandes Escolhas é feita pela mesma equipa que fazia a Revista de Vinhos e fiz confusão. O vencedor é a Revista de Vinhos, pelo seu grafismo mais depurado. No negócio do vinho, a imagem é decisiva. Mil desculpas.

(Grande burburinho na sala. Ouvem-se assobios. Uma câmara da televisão que filma a gala capta o momento em que alguém comenta para os restantes parceiros da mesa: “Isto é uma fantochada. Fez as pazes com o Nuno Pires [o director] e agora já fala bem da Revista de Vinhos”. “Ó pessoal, até nos Oscares se enganam”, grita Jorge Palma, transformando a algazarra geral numa gargalhada colectiva com os primeiros acordes de Deixa-me rir).   

Foi um prazer estar convosco. Divirtam-se e até à próxima gala, que será transmitida a partir da nova adega da Niepoort, na Bairrada”.

Muito importante: nem tudo o que se escreveu é verdade, mas podia ser.

Sugerir correcção
Comentar