Os direitos humanos são um incómodo

Theresa May esteve na China para falar de negócios, assinar acordos comerciais. E, embora tenha prometido discutir com os seus anfitriões abusos de direitos humanos cometidos pelo regime chinês – pelo menos questionar a deterioração da situação em Hong Kong, antiga colónia britânica –, se o fez, nada transpirou cá para fora. A primeira-ministra britânica conquistou até o pouco honroso elogio de um editorial jornal do regime Global Times ter louvado a sua decisão de ter “deixado de lado” o tema na sua viagem à China. Tal como o fez o Presidente francês Emmanuel Macron.

“Alguns media europeus pressionaram May e Macron por causa dos direitos humanos, mas os dois líderes deixaram o tema de lado na viagem à China. Isto mostra que a relação sino-europeia ultrapassou, em grande parte, o impacto da opinião pública radical”, diz o editorial.

A defesa dos direitos humanos é vista como não sendo mais do que “preconceitos e sentimentos negativos em relação à China”, que “gradualmente desaparecerão face às necessidades de realismo.”

A centralidade da defesa dos direitos humanos foi abandonada como política do Departamento de Estado norte-americano na Administração Trump, e tem-se visto o próprio Presidente Donald Trump a tratar como amigos líderes de regimes repressivos, como o egípcio Abdel Fatah Al-Sissi.

Mas a tendência tem sido seguida por outros chefes de Estado como Macron, que noutras áreas têm feito gala de marcar a diferença em relação a Trump. O Presidente francês não só recebeu Sissi no Eliseu, sem falar de questões dos direitos dos humanos – como lhe pediram publicamente organizações que têm esta preocupação no centro da sua actividade – como foi à China sem falar da liberdade de expressão, da liberdade de culto, dos presos políticos como o Nobel da paz Lu Xiaobo, que morreu na prisão, e a sua mulher, Liu Xia, que continua em detenção.

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