A honra e o acaso

A melhor demissão de sempre ocorreu na quarta-feira: foi a de Michael Bates na Câmara dos Lordes.

Uma coisa que os ingleses sabem fazer bem é demitir-se. Os japoneses são bons demais: desatam a chorar e teme-se que se matem. A honra é uma coisa muito bonita mas morrer por causa dela é uma falta de respeito pela vida.

Ora a melhor demissão de sempre ocorreu na quarta-feira: foi a de Michael Bates na Câmara dos Lordes. Depois de ter pedido desculpa à Baronesa Lister por se ter atrasado Bates rematou "I do apologise" (aquele do é intraduzivelmente inglês) e anunciou, sem aviso, manipulação dramática ou abuso de paciência, que se demitia imediatamente. As Ladies e os Lords clamaram "No!No!No!" mas o Barão Bates já ia lançado, não havia nada a fazer.

Dizem que se atrasou só 2 minutos. Bates não teria aceite este "só". Não é a quantidade de minutos que interessa. O que interessa, como ele explicou, é que ele não estava lá à hora marcada para a Baronesa Lister fazer as perguntas "importantíssimas" que tinha. O que interessa é que foi outro ministro a responder - e não o ministro Bates que deveria ter lá estado, com toda a ênfase no verbo dever.

Bates fez questão de declarar que sempre achou que os membros do governo devem mostrar a maior cortesia e consideração para com os representantes parlamentares. Bates tinha sido descortês e isso é inaceitável. Portanto demitiu-se.

90 por cento de mim enche-se de admiração mas os restantes 10 por cento não resistem a desconfiar. Os 2 minutos de atraso foram uma desculpa para se demitir? E será que se atrasou de propósito? Não posso crer.

 

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