Nem só com insufláveis se diverte uma criança

O sonho de uma mãe levou à construção da primeira brincoteca de Cascais, um espaço lúdico destinado a crianças dos três aos 10 anos com brincadeiras que não recorrem a tablets nem a insufláveis.

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Sebastião Almeida

No Dramático de Cascais, ladeada por um ginásio, um campo de futebol e até um restaurante de sushi, surgiu a "primeira brincoteca” de Portugal, um recanto dedicado à pequenada de cada casa, onde o intuito é partilhar, brincar e aprender sem impor limites.

“Com crianças existem regras para tudo,” conta Rita Dias, mãe de três e fundadora do projecto Oficina das Pulgas. “Se lhes ensinamos tudo não há margem para errar e aprender com esse erro.”

Aos 41 anos, a empreendedora adoptou esta filosofia quando decidiu deixar tudo para trás e mudar o rumo da sua vida. Em Maio de 2017, depois de se divorciar, despediu-se de um trabalho seguro no qual se encontrava há dez anos e averiguou o que verdadeiramente queria fazer.

“Foi preciso parar e pensar que não era feliz,” conta Rita. “Mas sabia que não ia ficar sentada à espera do meu próximo passo e por isso fui à procura.”

Essa procura levou-a até Bali, ambiente que a introduziu à meditação, ao ioga e a uma nova forma de estar na vida: a motivação para investir nela e nos seus sonhos. “O espaço acabou por surgir da necessidade que eu via como mãe de dar asas à imaginação das crianças no que toca à brincadeira e também do sonho que tinha.”

A “brincoteca”, montada em apenas um mês, vem para expor as crianças a jogos que já não constam no seu léxico diário, tal como um iô-iô, e ao conceito de que brincar é aprender — o que pode ser feito de mais do que uma maneira.

“Eu quero ser um SOS para os pais que têm que ir a algum lado e não têm onde deixar os filhos,” diz Rita. “O importante aqui é as crianças estarem bem num sítio acolhedor e familiar. Quero que pensem que estão em casa.”

O conceito pretende ir para além do típico ATL, já que funciona com uma modalidade de pacotes de horas — quanto mais horas compradas mais barato fica.

No centro da operação está um espaço com uma sala ao comprido, ladeada por uma parede forrada a ardósia e um tecto inclinado, todo pintado à mão. Na parede oposta, as estações de brincadeira são as mais variadas: desde casinhas de bonecas a cozinhas, puzzles ou mesmo o canto do faz-de-conta, com um palco repleto de disfarces. A Oficina Criativa (casa de lápis, pinturas e plasticinas) e o canto da leitura são os espaços com mais liberdade para convidados, numa brincoteca onde por norma os adultos não entram.

“Acho os livros muito importantes e quis trazer para as Pulgas um pouco das antigas ludotecas,” afirma Rita. “Ontem tive uma criança que pegou num livro e começou a tentar mexer como se fosse um tablet! E isso pode ser revertido.” 

A mascote do espaço é a pulga que, segundo Rita, é totalmente inspirado nos seus filhos a quem, desde pequenos, assim os intitula: Carolina, de 17 anos, Salvador, de 12, e Leonor, de oito.

Aos fins-de semana estão ainda previstas festas de anos, algo que a Rita já fazia em part-time, que serão disponibilizadas através de pacotes com modalidades flexíveis, que dependem do que cada criança gosta. “Vamos ter, por exemplo, uma festa de dança criativa com uma professora de dança que fez uma coreografia personalizada para a música preferida da criança,” divulga Rita. “E estamos a fazer parceria com o ginásio do Dramático para se poderem fazer festas na piscina ou no campo de futebol, caso alguém queira,” acrescenta.

Workshops para crianças são outra das vertentes do espaço e todos os dias haverá meditação infantil, num espaço no andar de cima da brincoteca denominado “Oficina das emoções”.

“A meditação para crianças não passa por ficar de olhos fechados e quieto, nada disso,” diz Rita. “A meditação passa por fazer jogos e por partilha entre as crianças, que conseguem nesses momentos exteriorizar as emoções.”

Com a concretização deste sonho, o essencial para Rita é mostrar que as crianças podem divertir-se de forma diferente: sem regras mas também sem confusão.

“É muito fácil montar um insuflável e deixar os miúdos gastar energia. Mas sinto que se pode trazer algo lúdico para as festas e espaços infantis, um propósito maior”, conclui a mãe, orgulhosa.

Texto editado por Sandra Silva Costa

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