É para os muito ricos que tem ido a grande maioria dos ganhos na economia mundial

Multimilionários mais ricos, pobres na mesma. Oxfam alerta para aumento da riqueza gerada por monopólios e pelas heranças, que chegava para acabar sete vezes com a pobreza extrema no Globo.

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Mais de 80% do aumento da riqueza mundial em 2017 foi parar às mãos dos 1% mais ricos do mundo Paulo Pimenta
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De acordo com os cálculos da ONG, o aumento da riqueza destes multimilionários (com mais de 1000 milhões de dólares de fortuna) em 2017, que se cifrou em 762 mil milhões de dólares, era o suficiente para acabar por sete vezes com a pobreza extrema no globo Reuters/ZOHRA BENSEMRA

Se o ano de 2017 foi de recuperação económica em quase todo o mundo, quem mais o sentiu voltaram a ser os mais ricos entre os ricos. De acordo com o relatório sobre desigualdade publicado pela Oxfam, o número de pessoas com uma fortuna acima de 1000 milhões de dólares registou o maior aumento de sempre, ao mesmo tempo que a situação da metade da população mais pobre do planeta se manteve praticamente inalterada.

O relatório da Organização Não Governamental, realizado a partir de dados trabalhados pelo banco Credit Suisse e preparado nas vésperas do encontro das elites empresariais e políticas em Davos, revela que o clube formado por aqueles cuja riqueza supera os 1000 milhões está agora acima dos 2000 membros, mais exactamente 2043, na sua grande maioria homens. Em cada dia de 2017, dois novos multimilionários ultrapassaram este patamar de riqueza.

Estes ganhos não foram, no entanto, uma simples consequência de um aumento do bem estar geral da população mundial, alerta a Oxfam. É que ao mesmo tempo que a riqueza dos multimilionáios aumentava, para a população com menos rendimentos, o ano de 2017 não trouxe boas notícias para a sua situação financeira. Mais de 80% do aumento da riqueza mundial em 2017 foi parar às mãos dos 1% mais ricos do mundo, ao passo que a metade da população mais pobre não registou qualquer melhoria.

E mais, o aumento da riqueza dos mais ricos, se utilizada de outra forma, seria mais do que suficiente para resolver diversos dos problemas de extrema pobreza existentes no planeta. De acordo com os cálculos da ONG, o aumento da riqueza destes multimilionários (com mais de 1000 milhões de dólares de fortuna) em 2017, que se cifrou em 762 mil milhões de dólares, era o suficiente para acabar por sete vezes com a pobreza extrema no globo, isto é, com as pessoas que têm de viver com menos de um dólar por dia.

A Oxfam, que assinala que aquilo que aconteceu em 2017 não é mais do que a manutenção de uma tendência dos últimos anos – os multimilionários conseguiram aumentar os seus rendimentos a um ritmo de 13% ao ano, enquanto, em geral, as actualizações anuais médias dos salários dos  trabalhadores se ficou pela casa dos 2% –, diz que este fenómeno de agravamento da desigualdade é o resultado de uma combinação infeliz de diversos factores, que aumenta o poder dos mais ricos, reduzindo a capacidade de reivindicação dos mais pobres.

“Os grandes grupos económicos estão a consolidar-se cada vez mais e estão sob grande pressão para entregar mais dividendos aos seus accionistas. Estes dividendos são conseguidos à custa dos trabalhadores e constituem um importante incentivo para entrar em práticas de evasão fiscal”, afirma o relatório, que assinala ainda que “a ameaça de uma maior automação também coloca mais poder nas mãos dos donos das empresas e mais pressão sobre os trabalhadores”.

A Oxfam recusa a ideia de que este aumento de riqueza no topo possa constituir um incentivo para que, depois, se gere mais investimento e inovação. “Há cada vez mais provas de que os actuais níveis de desigualdade extrema excedem em muito aquilo que pode ser justificado pelo talento, esforço e tomada de risco. Em vez disso, essa desigualdade é cada vez mais do produto das heranças, dos monopólios e das ligações suspeitas aos Governos”. 

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