Coordena-me tudo

Os scones não custam nada a fazer nem em dinheiro, tempo ou dificuldade. E faz-se um óptimo chá por ainda menos dinheiro, tempo e trabalho. O segredo, o grande luxo é a coordenação.

Aconteceu por acaso, sem mérito. Como os scones demoraram mais um bocadinho no forno o chá ficou pronto no preciso momento em que os scones vieram para a mesa.

O scone estava naturalmente quente, acabadinho de ser feito. Não tinha sido aquecido. Não tinha levado uma sova do micro-ondas. Estava perfeito. A manteiga derreteu e o doce de morango perdeu o frio. Seguiu-se um golo de chá no ponto: a primeira chávena a sair do bule é sempre a melhor.

Em ponto nenhum do planeta se pode comer um scone com chá que fosse melhor do que este. Igual, sim. Melhor, não. Nisto a perfeição é muito democrática. Já Andy Warhol dizia que os ricos não podem comprar uma Coca-Cola melhor. Não sei se ele estava a celebrar essa igualdade ou a queixar-se que é indecente que um rico desejoso de comprar uma Coca-Cola mais exclusiva seja sempre condenado à frustração.

Os scones não custam nada a fazer nem em dinheiro, tempo ou dificuldade. E faz-se um óptimo chá por ainda menos dinheiro, tempo e trabalho. O segredo, o grande luxo é a coordenação. A coordenação é que é difícil. É preciso sentarmo-nos e pensarmos nisso. É preciso fazer contas.

Como em tantas coisas das comidas e das bebidas as lições quase sempre se transpõem bem para as nossas vidas. Não é só saber os timings e os tempos certos para as diferentes ocasiões e disposições. É saber coordená-las como deve ser.

É bom, por exemplo, dar presentes que se possam usar imediatamente: pão antes do pequeno almoço, amêndoas torradas com os aperitivi...

Sugerir correcção
Ler 2 comentários