Há uma nova palavra para descobrir no dicionário dinamarquês: Lykke

Meik Wiking, autor de O Livro do Hygge e fundador do The Happiness Research Institute, criou um menu de ideias para ser feliz.

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Jenn Evelyn-Ann UNSPLASH

Algures no Outono de 2016, uma dezena de livros revelou uma corrente de pensamento dinamarquesa que quis convencer-nos que um dos segredo para a felicidade estava numa palavra sem tradução e com uma complicada forma de pronunciar: hygge. O autor de uma das propostas mais populares, O Livro do Hygge, é também o fundador do The Happiness Research Institute — uma espécie de think tank que realiza estudos sobre a felicidade e publica relatórios sobre diversos temas.

No seu novo livro, Meik Wiking volta a abordar a felicidade, mas desta vez de uma forma mais global. Em O Livro do Lykke - Os Segredos das Pessoas Mais Felizes do Mundo apresenta uma nova palavra dinamarquesa, não para se desdobrar em descrições acerca do seu significado — até porque este é, muito simplesmente, "felicidade" —, mas sim para falar sobre os hábitos de diferentes populações e o que as tornam mais felizes. O autor vai estar em Lisboa esta segunda-feira, às 18h30, na Bertran do Chiado, para o lançamento da versão portuguesa

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“Com o novo livro queria sublinhar que a Dinamarca”, que tão bem se dá nos rankings, “não tem o monopólio da felicidade. E, em vez disso, levar as pessoas numa caça ao tesouro global. [Em busca de] coisas que outros estão a fazer bem, em termos de melhorar a qualidade de vida”, explica o autor ao Culto. Assim, criou uma espécie de “menu de ideias”, a partir do qual os leitores podem escolher, analisar e, caso queiram, implementar nas suas vidas.

Portugal, por exemplo, é onde, ao que parece, “os pais mais felizes se encontram”, tendo o país ficado em primeiro lugar num estudo iniciado em 2005 e publicado em 2016, que acompanhou as rotinas de seis mil crianças e milhares de pais e avós em 22 países. “Em Portugal, os avós são alicerces fundamentais para os pais e têm um papel funcional na criação dos netos”, apresenta o livro. “Quando seis adultos, em vez de dois, participam activamente e assumem a responsabilidade de levar as crianças à escola, às actividades desportivas e outras, acompanhar o estudo, cozinhar e fazer outras tarefas, os pais ficam com mais liberdade e tempo livre — resultado: maiores níveis de felicidade.”

Converter o progresso económico em bem-estar

Os estudos sobre a felicidade normalmente dividem-se em seis grandes temas, explica Wiking. Juntos, estes conseguem explicar cerca de 75% daquilo que motiva a variação entre as pessoas mais e menos felizes, segundo os resultados do World Happiness Report, que produz um ranking anual com 155 países. É por estes seis capítulos ­— Convívio, Dinheiro, Saúde, Liberdade, Confiança e Bondade — que se desenrolam as ideias do livro. Além de resultados de diferentes estudos, apresenta exemplos práticos daquilo que motiva os bons resultados e também relatos reais, como o de Michelle McGaugh que “decidiu impor-se o desafio de não comprar nada de que não precisasse absolutamente, durante 365 dias”, bem como dicas — entre elas, “comprar experiências” que se encaixem numa paixão de vida, mesmo que essa paixão seja algo tão simples como investigação multidisciplinar da cor azul.

De resto, há muito a aprender com os diferentes países: em França as pessoas passam mais tempo a comer por dia do que em qualquer outro país europeu, dado que é considerada uma actividade social; no Japão, a prática de shinrin-yoku — um passeio lento pela floresta — funciona como uma espécie de “terapia florestal” para milhões de pessoas; e em certas escolas do Butão, os professores e alunos começam e terminam o dia com uma breve meditação a que chamam “massagem ao cérebro”. Neste último país, escreve Wiking, prefere-se “a felicidade interna bruta ao produto interno bruto” e, por isso, “é quase um laboratório, a ensaiar abordagens diferentes para aumentar o bem-estar”.

Wiking defende que o grande desafio do século XXI é converter o progresso económico em bem-estar, apontando os Estado Unidos como o grande exemplo de fracasso nessa matéria. O “sentimento global de que nos tornámos mais ricos, mas não mais felizes”, justifica, de acordo o autor, o enorme interesse demonstrado pelas pessoas em livros sobre a prática de Hygge e, mais recentemente, o Lagom — termo sueco para descrever um estado de equilíbrio —, que tiveram um enorme sucesso comercial.

“É a mais marcante tendência editorial da qual me consigo lembrar, meramente em termos de número de títulos publicados ao mesmo tempo”, comenta ao Guardian Caroline Sanderson, que escreve sobre livros de não-ficção na revista Bookseller.

Resta saber, então, se haverá mais palavras destas escondidas nos dicionários das línguas escandinavas. “Tenho a certeza que haverá”, responde Wiking entre risos, mas “não tenho planos actualmente”.

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