Iberdrola acusa Governo de lançar "suspeita sobre todo o sector”

Iberdrola tem 160 mil clientes em Portugal e quer chegar a 2020 com meio milhão. Empresa critica medida que permite o regresso à tarifa regulada porque pode induzir o consumidor em erro quando há preços melhores no mercado liberalizado.

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A empresa está a investir 1500 milhões de euros em três barragens no Tâmega, cujas obras vão durar até 2023 Paulo Pimenta

A Iberdrola Portugal fechou 2017 com 160 mil clientes no mercado liberalizado de electricidade (um aumento de cerca de 50% face aos 100 mil de 2016) e acredita que em poucos anos terá 10% dos clientes do mercado livre na sua carteira. “A meta é chegar a 2020 com meio milhão de clientes” de luz e gás, disse ao PÚBLICO a directora comercial da empresa, Carla Costa. A receita para lá chegar passa por oferecer as “ofertas mais competitivas, um serviço de excelência ao cliente e ofertas 100% verdes [energia limpa]”.

“Essa tem sido a nossa postura”, disse a gestora, admitindo que por essa razão viu com alguma frustração a entrada em vigor da medida que permite aos clientes regressarem ao mercado regulado ou terem tarifas equiparadas à regulada. “É indiferente se [a intenção do Governo] foi para atingir A ou B”, o que aconteceu foi que “lançou a suspeita sobre todo o sector, como se tivéssemos andado a fazer algo errado”, e eventualmente poderá até induzir os clientes em erro, porque há "melhores ofertas em mercado livre", frisou.

A Iberdrola decidiu não oferecer aos seus clientes a tarifa equiparada à do mercado regulado e, no início de Janeiro, o que fez foi actualizar os tarifários, reflectindo nas facturas dos clientes a descida com os custos das redes que foi decidida pela Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE).

Mas se a medida que permite o regresso ao mercado regulado é “um retrocesso” porque “lança a dúvida quanto à qualidade” das várias empresas do mercado liberalizado, na prática “não põe em causa o investimento” que a empresa espanhola - que em consumo é líder no segmento dos grandes clientes, segunda no industrial e disputa o terceiro posto com a Endesa no residencial - está a fazer na comercialização no mercado português.

Um investimento de quanto? “De muitos milhões”, disse a directora comercial da Iberdrola sem detalhar, mas assumindo que houve um grande investimento na captação de clientes, seja nas lojas (16 em Portugal) seja na força de vendas (“temos pena que os consumidores portugueses não gostem de contratar serviços de electricidade online”), que se reflectiu no crescimento de clientes de 2017.

“Quando se fala em sector eléctrico as pessoas pensam logo nos muitos milhões de euros que saem nas notícias”, mas essa não é a imagem fiel da actividade de comercialização, assegura: “É um negócio com margens muito pequenas e rentabilidades menores do que se imagina”.

Além disso, é um “negócio com muito risco” se tivermos em conta que cerca de 75% da factura de cada cliente residencial são custos regulados e impostos. “Pagamos esse custo do cliente, mas se o cliente não nos pagar a nós, as contas complicam-se”, explica. Em 2017 a Iberdrola facturou mais de mil milhões de euros, mas esse é um valor que a empresa diz que é “pouco relevante”, tendo em conta que devolve cerca de metade em custos de redes e taxas.

Assumindo que o mercado industrial “tem margens muito pequenas e que é uma guerra terrível entre empresas”, a responsável da Iberdrola Portugal nota que, ainda assim, a verdadeira dor de cabeça tem estado no residencial. O percurso “tem sido difícil”, porque “há um incumbente muito forte, muito agressivo”, a EDP, que torna complicada a tarefa de “manter clientes”. Para muitos consumidores, admite a gestora, “quando se fala em luz, ainda se fala em EDP” e a mudança é lenta. Ao passo que um cliente industrial percebe de energia e não é influenciável por uma abordagem mais agressiva de um concorrente, no cliente doméstico “é mais fácil instalar a dúvida”. Por isso Carla Costa aplaude que a ERSE tenha começado “a prestar mais atenção” a certos temas. Tais como? Como as cartas de despedida enviadas pela EDP Comercial (que abastece 80% do consumo das famílias no mercado livre) aos clientes que querem rescindir contratos e que levaram a ERSE a acusar a empresa de induzir os consumidores em erro, com o propósito de mantê-los na sua carteira, exemplificou.

Será “vantajoso” quando finalmente se puder “desligar as imagens” entre as empresas do grupo EDP, como exigiu o regulador: “A concorrência é boa se as regras forem iguais para todos”, destacou.

Fora da comercialização de energia, a empresa que já tem três parques eólicos em Portugal (com 92 Megawatts de potência instalada) e está a investir 1500 milhões de euros na produção hídrica com a construção do sistema electroprodutor do Tâmega (nas barragens de Daivões, Gouvães e Alto Tâmega, com 1158 MW de capacidade) está também a avaliar a participação nos concursos para atribuição das concessões municipais de distribuição de energia eléctrica no próximo ano.

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