Fundador da Deep Mind diz que este é o ano de uma inteligência artificial mais ética

Um dos criadores da empresa de inteligência artificial do Google apela a que se reflicta sobre como usar a tecnologia para o "bem público".

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Há uma discussão crescente sobre os impactos da inteligência artificial Denis Balibouse/Reuters

Mustafa Suleyman, co-fundador da Deep Mind, a empresa de inteligência artificial do Google, defende que os avanços na inteligência artificial devem ser acompanhados por reflexões sobre questões éticas e morais – e está convencido que 2018 será o ano em que mais pessoas se vão debruçar sobre um assunto que tem vindo a ganhar atenção à medida que a tecnologia se espalha por vários sectores.

Num texto publicado nesta sexta-feira na edição britânica da revista Wired (a Deep Mind tem sede em Londres), Suleyman argumentou que a inteligência artificial pode ajudar a resolver alguns dos problemas complexos que o mundo enfrenta: desde as mudanças climáticas aos desafios de saúde colocados por uma população humana em crescimento.

Não é incomum nos círculos tecnológicos a ideia de que a tecnologia pode, se não resolver inteiramente, pelo menos dar uma grande ajuda para solucionar questões complexas e de grande impacto. Suleyman, porém, não é inteiramente optimista, e ressalva que a integração das tecnologias de inteligência artificial na sociedade coloca os seus próprios desafios. “Podem tanto ajudar a ultrapassar a desigualdade económica, como podem piorá-la, se os benefícios não forem distribuídos de forma alargada. Podem tornar claros os preconceitos prejudiciais dos humanos e ajudar a sociedade a resolvê-los, ou podem entrincheirar padrões de discriminação e perpetuá-los”, exemplificou. “Fazer as coisas de forma certa implica investigação séria sobre as consequências da inteligência artificial e a criação de parcerias que assegurem que funciona em prol do bem público”, acrescentou.

A fundamentação das decisões tomadas pelos algoritmos de inteligência artificial tem sido objecto de debate. Um dos temas em discussão – embora ainda longe de se tornar uma questão premente no quotidiano – tem sido o de saber como os carros autónomos se devem comportar em caso de acidente. Um outro caso com potenciais implicações de vida ou de morte é o das armas inteligentes, como as que vigiam a fronteira entre as Coreias. Outro tema, que já tem hoje um impacto concreto e alargado, é o dos algoritmos que seleccionam conteúdos para cada utilizador em redes sociais e sites como o YouTube. 

Ao longo deste ano, antecipa Suleyman, o estudo sobre aqueles assuntos vai tornar-se uma questão premente. Mas haverá potenciais armadilhas pelo caminho: “O sector da tecnologia muitas vezes cai numa maneira de pensar redutora, substituindo avaliações de valor complexas por um foco em métricas simples que podem ser seguidas e optimizadas ao longo do tempo. É claro, é muito mais simples contar likes do que perceber o que de facto significa ter um like e os efeitos que isto tem na confiança e auto-estima.”

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