Santana Lopes e o Partido mais Português de Portugal

Não foi o PSD que liderou as três intervenções financeiras internacionais , como também não foi Pedro Santana Lopes – vítima de uma inconstitucional decisão presidencial de dissolução do Parlamento – que abriu caminho a José Sócrates.

A importância do próximo dia 13 de janeiro de 2018, quando os militantes sociais-democratas escolherem o seu novo presidente, transcende o próprio partido. Estou convencido de que é muito mais do que uma liderança partidária ou novos órgãos dirigentes o que estará em causa. 

Não são apenas os militantes que sabem disto, mas todos os portugueses, não obstante a suavidade da campanha partidária ou o desfavor de certos meios mediáticos, ainda embevecidos com os benefícios que recebem por parte de quem está no poder.

O momento é, por isso, sério, não porque esteja em causa a sobrevivência do PSD, mas pelo potencial que a social-democracia tem para dar a Portugal.

Não há partidos eternos, é verdade, e basta olharmos para a Europa para observarmos muitos partidos a nascer e a morrer.

Mas o PSD – ao qual pertenço com muita honra e desde a primeira hora da minha maioridade, e sem ter nunca mudado de partido – está indelevelmente impregnado na construção do Portugal Democrático e Social da III República.

Se dúvidas houvesse, bastaria ver a sua presença nos diversos momentos de reforma política, europeia, económica e social que foram protagonizados pelos seus governos e pelas suas maiorias.   

O momento é também sério, não porque esteja em causa o “tremendismo” de certa opção que alguns do PSD vaticinam para nos assustar, mas pela necessidade de encontrarmos os intérpretes fiéis de um acervo político-doutrinário de que o PSD sempre foi portador.

Isso só se pode fazer com capacidade de diálogo e de inclusão num partido com feridas abertas, recusando-se as lutas entre “bons” e “maus”, ou “nortistas” e “sulistas”...

Isso só se pode fazer com uma liderança carismática, experimentada, inteligente, com um discurso reformista e abrangente, que esteja muito para além do estafado economês, e que chegue à alma dos portugueses. 

Daí que me pareça óbvio que a reflexão deve ser objetiva, assentando nas alternativas que a nova etapa futura do PSD tem para dar ao País, em razão das propostas e dos perfis dos candidatos. Nunca com base no apoucamento dos feitos do passado ou nos julgamentos de carácter dos militantes do presente...

Agora que as moções de estratégia já são conhecidas, essa é uma avaliação que pode fazer. Indubitavelmente que a apresentada por Pedro Santana Lopes superabunda nas ideias de que Portugal precisa nesta fase complexa que está a viver, contra uma espécie de governação “tutti frutti”, de geometria variável, em que o certo no Parlamento é errado no Governo, em que a verdade da política económica é a mentira da política social.

Tudo isto bem urdido por uma habilidosa encenação teatral em que cada um tem as suas deixas e cada intervenção assume validade performativa própria, se bem que teoricamente integrada num conjunto de representações teatrais com valor diverso.  

As soluções da moção de Pedro Santana Lopes fazem muito bem o equilíbrio entre a credibilidade da sua efetivação e a inovação que possam trazer para a futura governação de Portugal.

O destaque vai para aquilo que, nos tempos de hoje, se afigura urgente: a coesão territorial de um Portugal que se desnivela mais e mais; a maior eficácia a dar a políticas sociais cada vez mais inócuas e redundantes; ou a decisão de uma reforma profunda dos poderes públicos que crescentemente definham em erosão de legitimidade. 

Ora, aqui é ponto de encontro de Pedro Santana Lopes com a própria história do PSD no Portugal da III República. Quando foi necessário, nos momentos decisivos de salvação da bancarrota ou de modernização política, económica e social, foi o PSD a formação partidária que esteve presente.

Não foi o PSD que liderou as três intervenções financeiras internacionais em 1977, em 1983 ou em 2011, como também não foi Pedro Santana Lopes – vítima de uma inconstitucional decisão presidencial de dissolução do Parlamento – que abriu caminho a José Sócrates como primeiro-ministro com maioria absoluta, para fazer o que hoje se sabe melhor.

Muitas das propostas da sua moção de estratégia podem trazer a diferença num espaço de manobra cada vez mais reduzido pelas regras europeias imperativas, pela uniformização económica global ou pela estandardização ideológica liberal-democrática.

Assim o esperamos.

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