Trump dissolve comissão que nomeou para investigar alegadas fraudes nas eleições de 2016

Presidente acusa alguns dos estados federados de não terem colaborado com a investigação recusando fornecer dados. Sem provas de fraude, Trump insiste – no Twitter – que o sistema de votação está viciado.

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Donald Trump critica os políticos democratas de não colaborarem LUSA/MICHAEL REYNOLDS
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Donald Trump critica os políticos democratas de não colaborarem Reuters/JONATHAN ERNST

O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, dissolveu a comissão que ele mesmo tinha incumbido de investigar se houve ou não fraude eleitoral nas eleições de 2016.  A comissão tinha sido criada em Março de 2017, por ordem da Casa Branca, com a missão de encontrar eventuais provas sobre a alegada falsificação de votos em Hillary Clinton, a adversária democrata naquele acto eleitoral. O anúncio da dissolução da comissão foi feito quarta-feira, após meses de trabalho sem resultados visíveis.

Trump justifica a decisão com a falta de colaboração das entidades estaduais envolvidas nas eleições. "Apesar de provas substanciais sobre fraude na votação, muitos estados recusaram fornecer à comissão sobre a integridade das eleições, informação básica relevante para o inquérito", lê-se no comunicado atribuído ao responsável de imprensa da Administração Trump. Por isso, "em vez de entrar em batalhas legais à custa do dinheiro dos contribuintes" para obter essa informação, "o Presidente Donald Trump assinou um decreto presidencial para dissolver a comissão", acrescenta a nota, concluindo que "Trump solicitou ao departamento de Segurança Interna que reveja as conclusões" a que a dita comissão chegou até ao momento e que "determine quais os próximos passos". 

Para lá da posição oficial, Trump regressou à sua plataforma de eleição, o Twitter, para apontar o dedo especificamente aos democratas: "Lutaram tanto para evitar mostrar os seus registos e métodos porque sabem que muitas pessoas estão a votar ilegalmente.”

Desde as eleições presidenciais que Trump insiste na ideia de que a vantagem de 2,9 milhões de votos (1,5%) por parte de Hillary Clinton só é explicável à luz de votos fraudulentos. Nos EUA, o Presidente é eleito forma indirecta, daí que quem tem mais votos nas urnas pode não ser o vencedor da eleição. Os votos em urna servem para atribuir um determinado número de representantes de cada estado num Colégio Eleitoral a quem cabe, efectivamente, a eleição do Presidente. Em 2016, Clinton apenas ganhou o voto popular. Trump, porém, sempre lançou dúvidas sobre esses números.

A tarefa da comissão nomeada por Trump – com um orçamento de 500 mil dólares (perto de 416 mil euros na taxa de câmbio actual) e pelo menos cinco reuniões obrigatórias – era produzir um relatório que detalhasse as leis e políticas que enfraquecem “a confiança do povo americano na integridade das votações”. O falhanço desta equipa foi celebrada por democratas e críticos de Donald Trump.

Diversas polémicas

O painel de investigação de 11 membros esteve envolto em controvérsia desde o início, somando pelo menos nove acções judiciais. Muitos acusavam a comissão de falta de transparência e de ser intrusiva. Em Junho, surgiram diversos alertas de que seria difícil obter conclusões válidas sobre eventuais votos fraudulentos apenas com base no nome e na morada dos eleitores. Um dos membros do painel, o secretário de Estado do Maine, Matthew Dunlap, chegou inclusivamente a processar a comissão por não partilhar com ele as suas actividades. Dunlap descrevia a sua participação como “irrelevante.”

Em Outubro, a notícia da detenção de um dos investigadores a trabalhar no painel, Ronald Williams II, por acusações de pornografia infantil, voltou a intensificar o conflito em torno desta comissão. Na altura, alguns membros democratas queixaram-se do facto de a comissão ser dominada por um pequeno grupo de republicanos, que detinham a maioria e o poder de decisão.

Agora, após o seu encerramento, o senador da Nova Jérsia, Cory Booker, escreve que a comissão sempre foi “uma ofensa, baseada numa mentira que procurava suprimir votos.” Booker era um dos políticos a tentar introduzir legislação para suprimir a comissão de Trump. Já Gerry Connolly, congressista da Virgínia, nota no Twitter que a comissão teve “a morte feia que merecia.”

O trabalho da comissão, no entanto, não termina aqui. O secretário de estado do Kansas e o vice-presidente do painel, Kris Kobach, explicam que a investigação vai ser transferida para o departamento de Segurança Interna.

Independentemente deste desfecho sem provas, Trump reitera que pretende criar um cartão de identificação único (além de outros documentos de identificação legais), obrigatório para quem quer exercer o direito a votar. "Como americanos, precisam de identificação."

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