“O fruto da guerra”: Papa Francisco partilha cartões com imagens de Nagasáqui

O registo foi feito em 1945, após o bombardeamento nuclear a Nagasáqui e Hiroxima. O Papa já alertou várias vezes para o perigo das armas nucleares.

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A fotografia tirada por Joe O'Connell utilizada nos cartões do Papa Francisco DR/Vatican Press Office
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A parte de trás do cartão DR/Vatican Press Office

O Papa Francisco mandou fazer e distribuir cartões em que aparecem fotografias das vítimas do bombardeamento nuclear de Nagasáqui, de 1945, com a inscrição “o fruto da guerra” na parte de trás dos cartões, assim como a sua assinatura “Franciscus”, avançou a CNN neste domingo.

Numa das fotografias vê-se um menino a transportar nos ombros o cadáver do seu irmão pequeno, enquanto o levava para ser cremado. O registo da imagem foi feito pouco tempo depois dos bombardeamentos no final da Segunda Guerra Mundial por um fotógrafo da Marinha norte-americana, Joe O’Donnell, na altura com 23 anos (morreu em 2014), escreve ainda a CNN.

O’Donnell passou sete meses a fotografar a devastação da guerra no Japão, diz o New York Times. O fotógrafo norte-americano levava duas câmaras consigo: com uma registava o cenário para as forças armadas; com a outra tirava fotografias para si – e para as quais só conseguiu olhar quase 50 anos depois. Em 1995, revoltado com o poder das armas nucleares, decidiu publicar um livro com algumas das suas fotografias, intitulado Japan 1945: A US. Marine's Photographs from Ground Zero (algo como Japão, 1945: As Fotografias de um Marinheiro Tiradas da Estaca Zero, numa tradução livre).

Na parte de trás dos cartões, há uma descrição da fotografia. “Um menino espera a sua vez num crematório para o seu irmão morto que transporta às suas costas”, lê-se no cartão divulgado pelo gabinete de imprensa do Vaticano. “A tristeza do menino só é manifestada pelo morder dos lábios, que escorrem sangue”.

O Papa Francisco já mostrou antes preocupar-se com os perigos do armamento nuclear e com a forma como pode afectar as pessoas mais vulneráveis, sobretudo crianças. Ainda este ano, depois da atribuição do Prémio Nobel da Paz à Campanha pela Abolição das Armas Nucleares, o Papa apelou à comunidade internacional que trabalhasse em conjunto para construir “um mundo sem armas nucleares”. “Esforçar-se para proteger a dignidade de todas as pessoas, especialmente as mais débeis e necessitadas, significa trabalhar com determinação para construir um mundo sem armas nucleares”, afirmava Francisco no início de Dezembro.

Face à escalada de tensões entre a Coreia do Norte e o mundo ocidental, sobretudo os Estados Unidos, o Papa Francisco manifestou neste domingo, numa retrospectiva de 2017, a sua preocupação com os arsenais nucleares.

“Ainda que a divulgação desta fotografia perto do Ano Novo não adicione nada de novo à posição do pontífice, não deixa de ser a primeira vez que Francisco pede que uma determinada imagem circule na época festiva, o que sugere que ele acredita que a mensagem é especialmente relevante nesta altura”, escreveu o jornalista e analista especializado em temas do Vaticano John L. Allen.

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