A paz social na Autoeuropa e outros recados de Natal de Marcelo a Costa

Presidente da República diz ao primeiro-ministro que portugueses querem várias estabilidades, entre elas a paz social "em empresas" que são importantes para o país.

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LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

A mensagem dos portugueses "foi muito clara" e agora resta aos políticos estarem "à altura" do que o povo quer e não quer. Nesta linha de raciocínio, o Presidente da República, na sessão de cumprimentos de Natal com o Governo, deixou vários recados no sapatinho e do que espera para o próximo ano. O leque foi tão variado que começou com a necessidade de "solidariedade institucional", passou pela "estabilidade financeira", depois para a "estabilidade política", passando com enfoque na "paz social" em "empresas" importantes para o país, leia-se Autoeuropa, e terminando na necessária ligação entre "o afectivo e o racional" na ligação entre políticos e portugueses depois dos incêndios.

Estavam frente a frente quase que a fazer juras de solidariedade institucional eterna, mas o que o Presidente tinha preparado para esta sessão não era apenas um simples cumprimento de Natal, eram uma lista de afazeres ao Governo de António Costa entre os que estão actualmente em cima da mesa - acordo entre trabalhadores e a Autoeuropa - como relembrando assuntos que marcaram a relação no passado recente - a reacção do Governo aos incêndios deste ano.

Por partes. Para início de conversa, Marcelo Rebelo de Sousa começou por salientar que 2017 foi um ano de "solidariedade institucional". Mas esta acontece não por uma crença mútua, mas, disse-o com todas as letras, "só podia correr bem porque decorre da lógica da Constituição, pelo menos da minha leitura da Constituição, que tem de correr bem e correrá bem até ao fim do meu mandato". Não apenas com este Governo, mas "nesta legisltuta e na próxima legislatura".

Primeira nota deixada, esta solidariedade que já tinha acontecido em 2016 nem foi o mais importante para o Presidente. Das leituras que fez do que quer e não quer o povo português, Marcelo chegou à conclusão que gosta da "estabilidade política". "Significando isso não apenas o cumprimento da legislatura, mas uma área de governação forte e uma oposição forte. É isso que o povo português quer, sentir essa estabilidade política".

Estabilidade por estabilidade, o Presidente nota que os portugueses evoluíram, já defendem que o défice tem de ser uma prioridade nacional e por isso zelam também pela "estabilidade financeira". 

A juntar ao leque e preparando terreno para o que queria deixar claro nesta mensagem, Marcelo evidenciou que o povo português também quer "estabilidade social" e que este ano, com baixo nível de greves o demonstra.

E terminam aqui as notas sobre as quatro coisas que, com alguns precalços, correram bem ao Governo: a estabilidade política, financeira e social e a relação com o Presidente (aqui, excepto o que aconteceu depois dos incêndios).

Contudo, neste final do ano, há uma das estabilidades que está ameaçada: ainda não há acordo entre a Autoeuropa e os trabalhadores para os novos horários de trabalho e o Presidente, sem nunca referir a empresa, quis deixar bem claro a António Costa que este tem de fazer tudo para resolver a situação: "Do mesmo modo [os portugueses] entendem que há empresas que pela sua importância, pelo seu poder, pelo relevo da área em que actuam, pelo emprego que envolvem, e de outras empresas que com elas colaboram, pelo prestígio internaiconal e pela imagem que deixam nos investidores estrangieros, é importante que haja paz social e que se faça tudo para que haja paz social, que não se corram o risco de aventuras". Porque se estas acontecerem, mesmo que "em determinado sector podem afectar o clima que o povo português entende ser bom para Portugal".

Não ficaria por aqui. Marcelo sabe que ao Governo custou ouvi-lo reagir ao trabalho do Executivo nos incêndios, quando fez uma declaração depois dos incêndios de Outubro em que puxou as orelhas a Costa pela forma fria com que comunicou a resposta que daria à catástrofe, provocando um desconforto na relação entre Belém e São Bento, como foi noticiado na altura pelo PÚBLICO. Passados dois meses desse dia, e em frente a António Costa, Marcelo não resistiu a pressionar o ponto, insistindo na ideia que em política é preciso haver uma ligação entre "o racional e o afectivo".

"Essa ligação é fundamental para entender o que são as suas dores, as suas desilusões e sofrimentos. Neste momento é essencial essa ligação dos portugueses ao poder político", frisou.

Para 2018, o caderno de encargos está traçado e o Governo não poderá ser menos do que perfeito em todas as áreas assinaladas pelo Presidente da República. Ou,nas palavras do próprio: "Os portugueses disseram o que queriam e não queriam e resta agora estar à altura da sua mensagem".

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