Uma ETAR, um museu, um terraço e um cineteatro vencem prémios Valmor

Prémio atribuído pela Câmara de Lisboa destina-se a premiar novas construções, assim como obras de recuperação e reabilitação, e espaços verdes que “valorizem e salvaguardem” o património da cidade.

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A Etar de Alcântara venceu o Valmor de 2013,A Etar de Alcântara venceu o Valmor de 2013 Enric Vives-Rubio,
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O Museu do Dinheiro foi o vencedor de 2014 MIGUEL MANSO
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Os Terraços do Carmo, de Siza Vieira vencem o Valmor de 2015 daniel rocha
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A reabilitação do Capitólio foi o vencedor do Valmor referente a 2016 Nuno Ferreira Santos

A ETAR de Alcântara, o Museu do Dinheiro, os terraços do Convento do Carmo e o Cineteatro Capitólio são os vencedores das edições 2013-2016 dos Prémios Valmor e Municipal de Arquitetura. Por entregar desde 2012, o Prémio Valmor, atribuído pela autarquia e pela Trienal de Arquitectura de Lisboa, reconheceu projectos arquitectónicos da cidade, terminados entre 2013 e 2016. Os vencedores foram conhecidos esta segunda-feira e, no rol dos quatro vencedores, encontram-se dois projectos municipais: a renovação dos Terraços do Carmo e do Cineteatro Capitólio, no parque Mayer. 

No ano de 2013, foi distinguida a obra de ampliação e nova cobertura verde da ETAR de Alcântara. O projecto da autoria de Frederico Valsassina, Manuel Aires Mateus e João Ferreira Nunes valeu-lhes o segundo Prémio Valmor das carreiras. Recorde-se que Aires Mateus foi galardoado, na sexta-feira, com o Prémio Pessoa, desta feita por outra obra na cidade, a nova sede da EDP, na frente ribeirinha da cidade.  

Ao PÚBLICO, o arquitecto Frederico Valsassina referiu ter sido uma dos “projectos mais interessantes” em que trabalhou nos últimos anos. “Foi um projecto muito, muito detalhado”, referiu, explicando que o objectivo passou por “tentar recuperar a encosta da antiga ribeira de Alcântara”. Para o arquitecto, que já foi galardoado com este prémio em 2004 com o projecto do complexo de hotel, serviços e congressos, Art/s Business & Hotel Centre, no Parque das Nações. 

Mas esta é uma obra diferente por ser um complexo industrial, em que o desafio “não era só escondê-la (à ETAR), mas também integrá-la”. O espaço continua a ser uma indústria, “mas está pensado” e “completamente disciplinado”, nota Frederico Valsassina, assinalando que o prémio “é uma mostra de que trabalhar a indústria vale a pena” [pois] “acaba por ser uma mais-valia poder integrá-la”. E aproveitou para dar os parabéns à SimTejo - que como promotora da obra é também galardoada - por ter apostado em arquitectos para tornarem um espaço industrial feio numa obra bonita e funcional. 

A dupla Gonçalo Byrne e José Pedro Falcão de Campos ganhou o Prémio Valmor, respeitante a 2014, com a recuperação da antiga Igreja de São Julião, na baixa lisboeta. Um projecto antigo do Banco de Portugal, num espaço que lhe serviu de armazém durante anos e que, desde Abril de 2016, alberga o Museu do Dinheiro, aberto a quem quer explorar a relação do ser humano com o dinheiro.

"Não trabalhamos para os prémios, mas é sempre bom ver que o trabalho é reconhecido", disse ao PÚBLICO o arquitecto Gonçalo Byrne, destacando o facto de ser compartilhado com Falcão de Campos. Tratou-se de um trabalho de recuperação de património que foi um "belo desafio", mas "muito exigente e interessante", por se tratar de um edifício "complexo" com 200 anos, integrada na reconstrução pombalina da cidade, depois do terramoto. Hoje em dia, destacou, "não só em Lisboa, como noutras cidades europeias, constrói-se menos edifícios novos, de raiz, e reabilita-se e reutiliza-se mais edifícios históricos".

Também não é a primeira vez que Byrne recebe esta distinção. Já em 2000, o arquitecto tinha sido galardoado com Prémio Valmor pelo Pavilhão C8 da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, no Campo Grande, e, em 2009, pelo edifício do Banco Mais, na Avenida 24 de Julho. 

Em 2015 e 2016, as obras premiadas são municipais. A primeira é o projecto de alteração dos Terraços do Carmo, da autoria de Álvaro Siza Vieira e Carlos Castanheira, que permitiu à cidade ganhar “uma nova varanda sobre a cidade”. As palavras são do presidente da câmara de Lisboa, na inauguração dos terraços, em Junho de 2015. Além das vistas, os lisboetas ganharam também uma ligação pedonal entre o Convento do Carmo e a Rua Garrett, no Chiado, que, desta feita, era a intenção inicial da empreitada, como lembrou, na altura o vereador do Urbanismo, Manuel Salgado. A obra custou 2,1 milhões de euros, provenientes de “verbas próprias e do Turismo de Portugal”.

A distinção também não é novidade para o arquitecto do Porto. Recebeu o primeiro Valmor em 1998 pelo projecto do Pavilhão de Portugal, na Expo. Já em 2004, o complexo de habitação, serviços e comércio Terraços de Bragança, que confina entre as ruas do Alecrim e António Maria Cardoso, foi distinguido. 

Depois de mais uma década votado ao abandono e das obras, que duraram entre 2009 e meados do ano passado, o projecto de recuperação do Cineteatro Capitólio, assinado pelo arquitecto Alberto Souza Oliveira valeu-lhe, pela primeira vez, o reconhecimento com o Prémio Valmor. 

O Cineteatro Capitólio, que está classificado como Imóvel de Interesse Público desde 1983, abriu pela primeira vez as portas em 1931, apresentando uma inovadora construção com linhas modernistas para o Portugal da década de 30, projectadas pelo arquitecto Luís Cristino da Silva. Souza Oliveira manteve essas linhas com a reabilitação da histórica sala de espectáculos do Parque Mayer que se espera agora que reabra num futuro próximo pela mão da promotora aveirense Sons em Trânsito

Durante a cerimónia, foram ainda reconhecidas mais nove obras que receberam uma menção honrosa por parte do júri constituído pelo arquitecto Sérgio de Melo, os vereadores da Cultura, Catarina Vaz Pinto e do Urbanismo, Manuel Salgado (este sem direito a voto) e os arquitectos Francisco Berger (pela Academia Nacional de Belas Artes), Cândido Chuva Gomes (pela Ordem dos Arquitectos) e João Pardal Monteiro (pela Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa). 

Entre essas obras destacam-se, por exemplo, a recuperação do Teatro Romano, projecto de Daniela Ermano e João Carrasco, promovido pela câmara de Lisboa. Assim como a construção do Museu Nacional dos Coches, pelos arquitectos Paulo Mendes da Rocha, MMBB & Bak Gordon e João  Ferreira Nunes; e o Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia (MAAT), de Amanda Levete, promovido pela Fundação EDP.

O Prémio Valmor é atribuído desde 1902 (na sequência de indicações deixadas no testamento do último visconde de Valmor, Fausto Queiroz Guedes), ano em que foi distinguido o Palácio Lima Mayer, na Avenida da Liberdade. Em 1982, este galardão foi associado ao Prémio Municipal de Arquitectura e, 11 anos depois, o regulamento foi reformulado, para passar a incluir a área de arquitectura paisagística.

Artigo actualizado às 22h13: onde se lia Álvaro Souza Vieira deve ler-se Alberto Souza Oliveira

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