Um software para edifícios é a melhor ideia de negócio em 2017

Prémio anual da ANJE distingue empresa de base tecnológica que promete melhorar a gestão de infra-estruturas, com poupanças.

Foto
Luís Martins e Felipe Costa, da Infraspeak DR

A Infraspeak podia ser apenas um projecto paralelo de um engenheiro civil que gosta de programação informática desde miúdo. Só que, algures no caminho de Luís Martins, apareceu Felipe Ávila da Costa. E uma ideia – sobre como poupar dinheiro a fazer manutenção de edifícios – converteu-se no projecto principal de ambos.

É exactamente esse caminho, o da transformação de um projecto de fim de curso numa empresa com 14 postos de trabalho e que está no mercado a contratar, que acaba de ser distinguido no Porto com o Prémio Jovem Empreendedor 2017.

Pelo menos um dos homens desta história, Felipe Ávila da Costa, prefere olhar dessa forma para o prémio, atribuído pela Associação Nacional de Jovens Empresários e que desta vez cabe à Infraspeak. “É o reconhecimento de um caminho”, comenta.

Depois de cinco anos a premiar startups ligadas à saúde, a ANJE escolheu uma empresa que também se ocupa da saúde, mas dos edifícios. A empresa embolsa 20 mil euros, um conjunto de apoios da ANJE, no valor de dez mil euros e outro de serviços prestados pela consultora PwC, avaliados em seis mil euros. Prémio total: 36 mil euros em dinheiro ou espécie e o nome numa lista que começou a ser escrita em 1998. À 19.ª edição, o prémio vai para as mãos da dupla criadora de um software que permite gerir à distância a manutenção de todo o tipo de infra-estruturas. O trabalho saltou dos bancos da Universidade do Porto para o mercado e quando Luís e Felipe perceberam que existia uma falha de mercado, atiraram-se de imediato, sabendo duas coisas: que o mercado é enorme; que era preciso ser rápido.

Em dois anos e meio, a Infraspeak saltou de dois clientes para 88. Estão em Portugal e mais quatro países: Brasil e Angola; Sérvia e Reino Unido.

Em meados de 2016, recolheram 250 mil euros de investimento. Entraram a Caixa Capital e a 500 Startup. Com esse dinheiro, focaram-se em montar a equipa de produto, conta Felipe. “Era uma equipa de cinco pessoas”, recorda. O produto aqui é um software capaz de receber, tratar e armazenar informação sobre estado de manutenção e necessidade de intervenção de todo o tipo de infra-estruturas, usando sensores nessas infra-estruturas que transmitem via comunicação de proximidade com as aplicações. O que se ganha? Tempo, dados, eficiência, explica Felipe. E o pitch tem funcionado, a avaliar pelos resultados – e pelas projecções.

A equipa vai em 14 pessoas e em 2018 vai aumentar. No horizonte dos fundadores, que se instalaram na Founders Founders, na rua da Constituição, está uma nova ronda de financiamento. O objectivo: dois milhões de euros. Destino: “investir na equipa, no crescimento das vendas, reforçar a equipa do produto”.

O serviço da Infraspeak cobre neste momento 3900 edifícios. Alguns clientes são nomes conhecidos: Siemens, Hotéis Vila Galé, Prio. “A Infraspeak é a materialização das características e do perfil que um vencedor do Prémio do Jovem Empreendedor deve apresentar", declarou o presidente da ANJE, a propósito do prémio, anunciado e entregue há uma semana no Palácio da Bolsa, no Porto. E que lista de requisitos é essa? "Inovação, tecnologia e contribuição directa para a optimização de processos e performance num produto de rápida e fácil escalabilidade", descreveu Adelino Costa Matos.

O futuro próximo deve passar pela contratação de equipas locais e também pelo reforço do serviço ao cliente. Isto porque a geografia começa a corresponder ao desafio número um desta empresa: “crescimento internacional”.

Tal como os outros cinco finalistas do Prémio do Jovem Empreendedor 2017, a Infraspeak é uma empresa de base tecnológica. Vende software como um serviço. Aos clientes promete poupanças na manutenção de edifícios.

Na lista de futuros projectos está o aproveitamento dos dados e passar a prever problemas, em vez de reagir quando eles surgem. É a “manutenção preditiva”, adianta Felipe Costa. “Estamos a pensar em modelos que permitam prever quando é que as avarias vão acontecer, para permitir intervenções preventivas, em vez de reactivas, que regra geral são mais caras”, explica.

Os mercados do Reino Unido, Espanha e França encabeçam a lista das prioridades. A expansão da Infraspeak corre menos risco de esbarrar na língua, porque quem fala são as máquinas. “São mercados com dimensão e muito competitivos. Se competirmos com os melhores, o crescimento, a evolução é obrigatória, mais natural”, argumenta.

A empresa deve fechar 2017 com uma facturação à volta dos 400 mil euros, diz o mesmo responsável. Para 2018, projectam facturar um milhão de euros. “Durante 18 meses, o crescimento foi feito com os nossos clientes”, salienta, mas a empresa precisa de ganhar tracção no mercado. E a ronda de financiamento que se avizinha é para “acelerar o crescimento internacional”. Moçambique e Cabo Verde foram entretanto adicionados ao mapa de clientes.

Esta foi a 19.ª edição do prémio da ANJE, que recebeu 140 candidaturas. Em comum, o facto de serem propostas de negócio em fase inicial de desenvolvimento, promovidos por pessoas com idades até aos 35 anos – dois factores obrigatórios para se poder concorrer.

À lista de finalistas chegaram seis projectos:  Heptasense, Inbictum, Promptly, Scubic, Stratio Automotive e a vencedora Infraspeak. A gala de atribuição do prémio, no Porto, serviu ainda para entregar a Luís Portela (Bial) o Prémio Carreira e distinguir a Veniam com o primeiro ScaleUp Portugal Award, um prémio destinado a tecnológicas de crescimento acelerado, facturação acima de meio milhão de euros e financiamento acima de um milhão.

A vitória da Infraspeak no Prémio do Jovem Empreendedor interrompe uma série de cinco anos de triunfos de startups ligadas à saúde. Entre 2012 e 2016 foram distinguidas a Medbone, a Bn'ML, a Targetalent, a Exogenus Therapeutics e a Uphill.

Empresas hoje conhecidas como a Critical Software ou a Active Space Technologies também constam da lista de projectos premiados até esta edição. Em 2017, o júri foi constituído por Adelino Costa Matos (ANJE), Luís Manuel (EDP Inovação), Paulo Pinho (Semeia Ventures e Venture Building), António Correia (PwC), Ricardo Torgal (Indico Capital Partners) e Alexandre Santos (Bright Pixel).

Sugerir correcção
Comentar