Robôs, carros autónomos e chatbots podem obrigar 375 milhões a mudar de emprego

Tecnologia destrói empregos, mas não trabalho. O ser humano vai ter de se adaptar: na era da automação, actividades que exigem capacidades mais sociais, emocionais, e criatividade aumentam.

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O trabalho fabril já está em boa parte nas mãos de robots Reuters/Issei Kato

O desenvolvimento da automação – mais braços mecânicos em fábricas, robôs humanóides em lojas, chatbots a falar com clientes, ou carros que se conduzem sozinhos – pode forçar mais de 375 milhões de pessoas a mudar de emprego até 2030. O número vem no relatório anual do instituto McKinsey Global. Corresponde a 14% da força de trabalho global.

“Mesmo se existir trabalho suficiente para garantir o nível de emprego actual até 2030, esperam-nos transacções que podem superar a escala de mudanças históricas ao nível da agricultura e da industrialização,” lê-se no relatório publicado nesta quarta-feira.

Para chegar às conclusões, os autores analisaram o mercado de trabalho em 46 países (incluindo Portugal) ao nível das habilitações, ordenados, e oferta de emprego. Foram consideradas 800 ocupações diferentes (dessas, 60% já podem incluir um terço de automação). Concluiu-se que nos próximos 12 anos entre 400 milhões e 800 milhões de pessoas terão de adaptar o trabalho que fazem.

Na era da automação, os operadores de máquinas industriais, profissionais focados na recolha e processamento de dados, administradores de escritório, e trabalhadores de cadeias de restauração estão entre os mais afectados. Na próxima década existirão menos empregos nestas áreas, e os salários serão mais baixos (para competir com os sistemas automáticos). A China será o país com mais mudanças.

“Mas todos precisam de se adaptar, consoante o trabalho que fazem evolve e há máquinas cada vez mais capazes”, explicam os autores no relatório. “Parte dessa adaptação, passa por aumentar o nível de habilitações literárias, ou passar mais tempo em actividades que exigem capacidades mais sociais ou emocionais, ao nível da criatividade ou outras capacidades difíceis de automatizar.”

Trabalhos manuais em ambientes pouco previsíveis (uma casa ou um centro de dia, em vez de um restaurante ou fábrica) vão aumentar. Jardineiros, canalizadores, e profissionais que cuidem de idosos e crianças são os que correm menos riscos de ficar desempregados. No geral, são os trabalhos que implicam gerir e orientar outras pessoas, interagir aprofundadamente com investidores e clientes, ou mão-de-obra muito especializadas que estão seguros.

O relatório aborda também o que vai acontecer com o envelhecimento da população. Em 12 anos, estima que existam pelo menos mais 300 milhões de pessoas acima dos 65 anos do que em 2014, o que levará a um aumento de enfermeiros, médicos e cuidadores (capazes não só de cuidar das pessoas, mas de falar com elas, compreendê-las e fazer-lhes companhia.” O Japão (onde já há robôs – chamados carerobots – em cinco mil lares e centros de dia para idosos) é o único país onde estas profissões não vão aumentar.

Porém, o próprio relatório nota que “a história sugere que estes receios podem ser infundados: ao longo do tempo, os mercados de trabalho sempre se ajustaram, mesmo que com salários menores”. Segundo os autores: “Vai sempre existir uma procura por trabalho humano, mas os trabalhadores em todo o mundo vão ter de repensar as noções tradicionais de onde trabalhem, como trabalham, e quais os talentos e capacidades que levam para esse trabalho."

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