Começa nesta segunda-feira uma celebração original da consagração do fado como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO: uma maratona de fados que vai começar às 8h da manhã e acabar à mesma hora da manhã seguinte. A ideia foi do guitarrista Pedro de Castro e o palco será a sua casa de fados, a Mesa de Frades, que esteve muito tempo fechada e agora reabre para o efeito. “A minha primeira ideia”, explica ele ao PÚBLICO, “foi compensar os onze meses que estive fechado. E como, surpreendentemente, a maior parte da comunidade costuma alinhar nas minhas ideias dementes, também até agora ninguém me disse que não.” Ele já tinha a casa pronta a reabrir, mas preferiu esperar uns dias para fazer coincidir a reabertura com o dia exacto da elevação do fado a património imaterial, a 27 de Novembro de 2011.

“Nos últimos meses houve muitas dezenas de pessoas a perguntar insistentemente pela Mesa, porque nestes doze anos criou-se ali uma comunidade à volta. Há uma necessidade daquele espaço, não só pela sua beleza mas também pela descontracção, é um sítio onde os fadistas vão cantar porque lhes apetece, não é propriamente a casa de fados para turistas.” Fez, por isso, obras grandes. E na maratona espera ter gente logo pela manhã. “Eu sei que há uma quantidade de malucos furiosos que vão lá estar, que fazem questão de estar na abertura logo à primeira hora.” Durante o dia ainda é uma incógnita mas há outro período onde ele já antecipa uma enchente: “A partir das nove da noite.”

Nomes dos participantes há muitos. “Até agora toda a gente me disse que sim”, diz o guitarrista. Entre os que disseram “sim” estão Celeste Rodrigues, João Braga, Katia Guerreiro, Ana Sofia Varela, Carminho, Camané, Helder Moutinho, Pedro Moutinho, Teresinha Landeiro. Uns com hora fixa, outros com hora variável. Os músicos vão-se revezando, sem grandes regras prévias. “Houve quem sugerisse que eu fizesse um programa e estive muito tentado a fazê-lo. Mas eu quero mesmo divertir-me neste dia, e se tiver um programa fico ali amarrado. E eu prefiro que seja mesmo espontâneo.”

Entre os músicos convidados, e participantes na maratona, há um nome que se destaca pelo seu papel no fado, como viola baixo, ao longo de várias décadas: o professor Joel Pina, ainda activo nos seus 97 anos, que deverá tocar pelas 23h de segunda-feira.