Reino Unido não recebe Capital Europeia da Cultura em 2023

Decisão anunciada pela Comissão Europeia é uma consequência do "Brexit". Mas os membros do painel de selecção das CEC defendem a continuação do "intercâmbio cultural".

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Belfast, capital da Irlanda do Norte, é uma das cinco cidades que se tinham candidatado à CEC Cathal McNaughton/ REUTERS

O Reino Unido não pode receber a Capital Europeia da Cultura (CEC) em 2023, conforme previsto, devido ao "Brexit", informou esta quinta-feira a Comissão Europeia.

"Esta é uma das muitas consequências práticas da decisão de deixar a União Europeia até 29 de Março de 2019: o Reino Unido já não pode acolher a Capital Europeia da Cultura em 2023", disse a porta-voz do executivo europeu.

O Reino Unido e a Hungria foram os países designados para organizar a CEC em 2023, e cinco cidades britânicas tinham já apresentado a sua candidatura ao Governo. Todavia, a Comissão Europeia enviou uma carta ao ministro da Cultura do Reino Unido informando-o de que não seria possível realizar o evento.

"Nós pensamos que é uma questão de bom senso interromper o processo de selecção agora", disse a porta-voz.

Belfast, na Irlanda do Norte, Dundee, na Escócia, Milton Keynes, Leeds e Nottingham, em Inglaterra, tinham-se proposto receber a CEC em 2023, segundo o jornal The Guardian.

A agência noticiosa France Presse realça, porém, que algumas cidades de países que não fazem parte da União Europeia já acolheram o evento, designadamente Istambul, na Turquia, Stavanger, na Noruega, e Novi Sad, na Sérvia.

O "projecto não está aberto a países terceiros, a menos que os países sejam candidatos [à adesão à UE], do Espaço Económico Europeu [EEE] e da Associação Europeia de Comércio Livre [EFTA]", acentuou a porta-voz da Comissão.

Turquia e Sérvia iniciaram o processo de adesão à União, e a Noruega faz parte do EEE. O Reino Unido, todavia, já declarou que não quer pertencer ao EEE, após a saída da UE.

Os especialistas nomeados para o Painel de Selecção das Capitais Europeias da Cultura, numa carta aberta divulgada também esta quinta-feira, reagiram ao anúncio da Comissão defendendo a continuação do "intercâmbio cultural" e de projectos conjuntos, apesar do "Brexit". Os membros do painel afirmam compreender que, "devido ao 'Brexit', as relações entre o Reino Unido e a União Europeia precisam de ser redefinidas", mas ressalvam que "um intercâmbio cultural frutífero e projectos conjuntos devem continuar", o que merece o seu apoio em "benefício mútuo de todos os cidadãos".

O grupo de escrutinadores – entre os quais se encontra a socióloga portuguesa Cristina Farinha, investigadora do Instituto de Sociologia da Universidade do Porto, ex-directora da Agência para o Desenvolvimento da Cultura e Indústrias Criativas (Addict) – afirma que, ao contrário do previsto, não foi seleccionada qualquer cidade britânica para acolher a CEC, a partir das cinco candidaturas recebidas, Belfast, Dundee, Leeds, Milton Keynes e Nottingham.

"Como especialistas nomeados para o painel de selecção, gostaríamos de expressar o nosso apreço pelo trabalho e entusiasmo das cidades candidatas. O mundo e a Europa precisam, mais do que nunca, de reconciliação e cooperação. A cultura e as artes podem desempenhar um papel crucial para reunir as pessoas e construir pontes e colaboração – uma convicção partilhada por todos os envolvidos" desde o começo da iniciativa Capital Europeia da Cultura, há mais de 30 anos.

"Desejamos expressar o nosso compromisso de apoiar um diálogo aberto e todo tipo de pontes construtivas para fortalecer a diversidade cultural e a cooperação entre as cidades Capitais Europeias da Cultura e todas as outras cidades da Europa e do mundo", lê-se no documento.

O projecto CEC existe desde 1985, e já contou com três cidades portuguesas: Lisboa (1994), Porto (2001) e Guimarães (2012). A União Europeia nomeia actualmente duas cidades por ano. Este ano, as escolhidas foram Aarhus, na Dinamarca, e Pafos, no Chipre.

 

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