São precisos mais 369 mil empregos para recuperar perdas dos últimos 15 anos

A economia portuguesa já conseguiu recuperar o postos de trabalho destruídos no período da troika, mas ainda tem um longo caminho até voltar aos níveis de 2002.

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Restauração e alijamento foram respons+aveis por metade da criação de emprego no trimestre Manuel Roberto

No terceiro trimestre de 2017, o desemprego baixou para 8,5% e o emprego atingiu o nível mais elevado desde o final de 2010, reforçando a tendência de evolução do mercado de trabalho que já permitiu recuperar totalmente os empregos destruídos durante o período em que a troika esteve em Portugal. Porém, para compensar as perdas dos últimos 15 anos, a economia ainda teria de criar mais 369 mil novos postos de trabalho.

A evolução dos últimos três anos mostra que o país está a conseguir recuperar da forte destruição de emprego durante o período da troika. Entre o segundo trimestre de 2011 – quando se iniciou o programa de ajustamento negociado com as instituições internacionais – e o segundo trimestre de 2014, altura em que formalmente se encerrou o programa, a economia perdeu 284.800 postos de trabalho.

Daí em diante e até ao terceiro trimestre de 2017, a população empregada registou um aumento de 288.400 pessoas, um número que mais do que compensa as perdas registadas. Mas apesar das melhorias, o país continua longe dos níveis de emprego verificados no início do século XXI, que tiveram o seu ponto máximo no terceiro trimestre de 2002, quando havia 5.168.500 pessoas empregadas e a taxa de desemprego estava nos 5%. Tendo como referência esse período, a economia portuguesa precisaria de criar mais 369 mil postos de trabalho, além dos que já conseguiu recuperar.

Os dados divulgados na quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística mostram que há agora 4,803 milhões de pessoas a trabalhar, mais 42.600 do que no trimestre anterior e um aumento homólogo de 141.500 empregos.

A recuperação trimestral, e também anual, do emprego resulta sobretudo do desempenho do sector dos serviços (que criou mais 53.500 postos de trabalho), com o alojamento e a restauração a assegurarem mais de metade dos pontos de trabalho do sector (29.100).

O aumento do emprego reflectiu-se tanto na contratação a termo como sem termo, Porém, os contratos a termo tiveram uma subida mais expressiva do que os definitivos e isso aconteceu tanto na evolução trimestral como na anual. O número de contratos a termo aumentou 7,5% no ano e 4,8% em cadeia, enquanto a contratação sem termo – que continua a ser predominante no mercado de trabalho português – teve uma subida de 4,5% e de 1,2%.

Desemprego nos 8,5%, o valor mais baixo desde 2008

A melhoria do emprego, associada a um aumento da população activa, acabou por também contribuir para que a taxa de desemprego caísse para os 8,5%, o valor mais baixo desde o quarto trimestre de 2008 (7,8%).

No final de Setembro havia 444 mil pessoas desempregadas, menos 17.400 do que no trimestre anterior, uma redução que, segundo o INE, “está em consonância com os decréscimos usualmente observados nos terceiros trimestres desde 2013”. Na comparação com 2016, a redução foi mais acentuada, correspondendo a menos 105.500 desempregados.

Num quadro de melhoria geral dos indicadores, os números trazem alguns alertas: o desemprego jovem aumentou em cadeia (de 22,7% para 24,2%.) e, o desemprego de longa duração, embora esteja a reduzir-se, afecta mais de metade dos desempregados (57,3%) que procura trabalho há 12 ou mais meses, sem sucesso.

Quase 870 mil pessoas subaproveitadas

Pela segunda vez, o INE publica um novo indicador que permite fazer uma análise mais ampla e que revela que, além dos 444 mil desempregados, há mais 425.900 pessoas que não estão a ser totalmente aproveitadas pelo mercado de trabalho e que um desses grupos – o dos desencorajados – teve um aumento trimestral signficativo.

A “subutilização do trabalho” inclui os desempregados e as pessoas que, na altura em que o inquérito do INE foi feito, não cumpriam os requisitos para serem classificadas como tal. É o caso dos inactivos à procura de emprego mas não disponíveis para trabalhar (21,5 mil) e os que, estando disponíveis, não procuram emprego, também chamados desencorajados, que eram 226,8 mil, mais 10,9% do que no trimestre anterior. A este grupo somam-se ainda os trabalhadores a tempo parcial que gostariam de ter um emprego a tempo inteiro (que eram 177,6 mil).

Ao todo, são 869,9 mil pessoas cujo potencial não está a ser aproveitado, o que corresponde a uma taxa de subutilização de 15,8%. No terceiro trimestre de 2016, eram 1,031 milhões de pessoas, e a taxa chegava aos 18,8%. Este indicador tem vindo a cair de forma consistente ao longo do último ano, acompanhando a trajectória de descida do desemprego. 

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