Frankie foi ao Trindade e Lisboa agradeceu e aplaudiu

No penúltimo concerto do ciclo Há Música no Trindade, Frankie Chavez encheu duas salas e comprovou a intensidade da sua música, com a (boa) ajuda de alguns amigos.

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Frankie Chavez no Trindade ADRIANO FILIPE/TEATRO DA TRINDADE/INATEL
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Frankie Chavez com Vasconcelos Dias ADRIANO FILIPE/TEATRO DA TRINDADE/INATEL
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Com Sam Alone e, à direita, Benjamim ADRIANO FILIPE/TEATRO DA TRINDADE/INATEL
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Com Rui Veloso ADRIANO FILIPE/TEATRO DA TRINDADE/INATEL
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Donovan Bettencourt, João Correia, Rui Veloso, Frankie Chavez, Vasconcelos Dias e Benjamim ADRIANO FILIPE/TEATRO DA TRINDADE/INATEL

Depois de ter apresentado no Hard Club de Gaia, no dia 20, o seu mais recente disco Double or Nothing, Frankie Chavez encheu em Lisboa a sala do Teatro da Trindade por duas noites consecutivas com o mesmo programa mas com quatro convidados: Benjamim (Luís Nunes), que esteve em palco praticamente todo o tempo, os guitarristas Peixe (ex-Ornatos Violeta) e Sam Alone (Poli Correia) e um guitarrista, cantor e compositor que dispensa apresentações: Rui Veloso. Como já haviam notado vários críticos, ao falarem de Double or Nothing, o som de Frankie Chavez é hoje mais maduro, coeso e vibrante do que nos trabalhos anteriores. A estabilidade e envolvimento da banda também ajudam: João Correia na bateria, Donovan Bettencourt no baixo e Vasconcelos Dias nos teclados (a substituir Paulo Borges, que por razões de agenda não pôde participar) deram à sonoridade que tem vindo a ser desenvolvida por Frankie Chavez um alento acrescido, pleno de vigor e exuberância. Um Trindade cheio por duas noites (este texto refere-se apenas à segunda) foi a justa paga de tal evolução.

O novo disco foi apresentado na íntegra, somando-se-lhe alguns temas vindo do anterior, Heart & Spine (2014). A começar pelo instrumental Sliding donnie, eloquente explanação sonora dos caminhos hoje seguidos pelo guitarrista. No resto, balanceando rock e blues, folk e alguma country (nítida em By the banks of this old river, escrita com Lisboa e o Tejo no pensamento), o primeiro lugar cabe às guitarras e às suas múltiplas colorações. Os riffs de Save abriram caminho a My religion (com Sam Alone), Move on e Time for change, todas do novo disco. Depois entrou Peixe e, com Frankie, só com guitarras acústicas, tocaram o instrumental Pine trees (de Heart & Spine). A que se seguiu, mantendo o bom momento e a inspiração da dupla, a balada Strong enough to pray, regressando aos temas do novo disco.

A Peixe seguiu-se, por entre aplausos, um Rui Veloso bem-disposto e em grande forma, e com ele o único momento da noite em que Frankie Chavez cantou em português: Morena de azul, que até pelo título só podia soar a blues. Tal como soou, e de que maneira, Going down, de Freddy King (aqui foi Rui quem cantou em inglês), prolongando o espírito de jam session que Rui e Frankie tinham prometido. Um festim de guitarras, aplaudido de pé. Depois vieram, já com Rui de saída, Sweet life e Her love (de Heart & Spine), com By the banks of this old river, do novo disco, pelo meio. E neste haveríamos de ficar até final, já o rock se impunha ao blues, com Getaway e Whatever happened to our love, isto para fechar com a balada que dá título ao disco, Double or nothing, num provisório adeus à ribalta.

O encore traria mais dois temas: primeiro Good intentions (“I look at the mirror;/ and I'm up-side down./I try to make a stand,/ but I have no ground”), com lap steel e reminiscências ambientais de Ry Cooder e, mesmo a fechar, com todos os músicos e convidados em palco (numa temível e simultaneamente entusiasmante concentração de guitarras e electricidade), Fight, que Frankie dedicou “ao Rui [Veloso], que anda na estrada há não sei quantos anos.” Uma luta, pois, feita de nervo, ritmo e muito suor. O rock e o blues que o digam, que não há morte anunciada que os derrube. Frankie Chavez presta-lhes justa homenagem, com a sua música, e as plateias agradecem, enquanto houver entusiasmo e entrega no que se toca.

Depois de Frankie Chavez (em 27 de 28 de Outubro), o ciclo Há Música no Trindade termina com o projecto que une Mário Laginha a Tcheka, nos dias 15 e 16 de Dezembro. Antes, passaram pelo palco do Trindade Tatanka (23 de Junho), Yamandu Costa (24 de Junho), José Manuel Neto (7 e 8 de Julho), Dead Combo (27 e 28 de Julho) e Vitorino com os pianistas Filipe Raposo e João Paulo Esteves da Silva (13 e 14 de Outubro).

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