Fafá de Belém renasce em palco e em disco com duas guitarras eléctricas do Pará

A cantora brasileira como nunca a ouvimos, acompanhada por uma dupla de guitarristas do Pará, Manoel e Filipe Cordeiro, pai e filho. Quarta e quinta-feira nos coliseus de Lisboa e Porto, respectivamente.

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Fafá de Belém entre os guitarristas Filipe e Manoel Cordeiro no espectáculo Do Tamanho Certo Para o Meu Sorriso DR
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Fafá de Belém no espectáculo Do Tamanho Certo Para o Meu Sorriso DR
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Fafá de Belém no espectáculo Do Tamanho Certo Para o Meu Sorriso DR
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Fafá de Belém no espectáculo Do Tamanho Certo Para o Meu Sorriso DR

Esqueçam os sucessos, preparem-se para a novidade: aos 61 anos, a cantora paraense Fafá de Belém gravou um disco com dois guitarristas seus conterrâneos e isso deu uma reviravolta na sua carreira e na sua vida. É assim, só com eles em palco, que ela apresenta em Portugal o espectáculo que, depois do disco (Do Tamanho Certo Para o Meu Sorriso, 2015), já deu origem a um DVD, gravado em São Paulo. Esta quarta-feira no Coliseu de Lisboa, quinta-feira no Coliseu do Porto, sempre às 21h30.

Nascida Maria de Fátima Palha de Figueiredo em Belém do Pará, a 9 de Agosto de 1956, esteve oito anos sem gravar discos. “Tinha uma vida tranquila. A agenda sempre cheia e acomodada. Até que ouvi uma música chamada O meu coração é brega. Eu já vinha acompanhando essa nova leva de músicos do Pará, de onde saí há mais de 40 anos [para viver em São Paulo], e o Manoel [Cordeiro] é uma referência para todos nós, de várias gerações, como produtor, executor e criador.” (Da canção O meu coração é brega, que registou no novo disco, viria depois Fafá a gravar um vídeo com produção de Luis Lobianco e da Porta dos Fundos).

Manoel Cordeiro, também nascido no Pará, em 1955, é um célebre guitarrista que em 2016 formou com o seu filho Filipe, também guitarrista, uma dupla chamada Combo Cordeiro, cujo disco, homónimo, foi lançado este ano. Antes, já haviam gravado com Fafá de Belém o disco que ela traz agora a Portugal. Basicamente com guitarras eléctricas, mas também com teclas, sintetizadores e programações. “Propus este disco para todas as gravadoras, nenhuma quis. Queriam um disco de duetos, tipo aquele disco de salvação de carreira, ou um best of.” Recusou ambos. “Porque o meu caminho é andando p’rá frente. Aí, propus a um amigo meu que tem um selo pequeno fazer um disco de remixes.” Mas ele fez-lhe uma contraproposta: um disco que já tinha na cabeça, de voz e guitarras eléctricas. Aí entrou a dupla Cordeiro. “De uma assentada tínhamos 60 canções e fomos limando uma a uma.” Juntaram-se, ela e os músicos, e “em quatro dias o disco ficou pronto.”

Com um sotaque no DNA

Do Tamanho Certo Para o Meu Sorriso tem dez canções, o DVD mais do dobro. “É um espectáculo completo, com cenário, muda de roupa. Como somos nós que estamos fazendo, apostámos nesse trabalho. E é muito interessante. Porque eu começo cantando de costas, como fiz da primeira vez que fui cantar com uns amigos dos meus irmãos, tinha eu uns 13, 14 anos. Disseram que iam cantar num lugar onde eu não podia entrar porque era menor de idade. Então eu disse que cantava de costas, e cantei. Ninguém me fotografou.”

Mas não foi fácil convenceram-na a voltar ao palco. “Propuseram-me um show e eu disse que não tinha paciência para shows de cantora, tudo igual. O único que eu achava revolucionário era o da Alice Caymmi. Então chamaram o coreógrafo dela, o Paulo Borges. E eu, que odeio ensaiar, passei a gostar. E percebi que coisas que eu canto há 40 anos eu cantava como há 40 anos.” O desafio, diz ela, foi “pôr uma mulher de 60 anos [Fafá tem 61] a cantar músicas que cantava aos 18”.

Manoel Cordeiro diz: “Com este som contemporâneo, tem uma Fafá cantando como nunca. Um dos pontos altos deste disco é a interpretação dela. Fico encantado a ouvi-la.” Há uma ligação natural, que advém do lugar de nascimento de ambos, o Pará. “Esse sotaque musical”, diz Fafá, “está no nosso DNA": "A gente não precisava explicar nada, era tudo muito intuitivo. A nossa estreia foi no Festival de Garanhuns [na noite de 26 de Junho deste ano, em Pernambuco], perante 50 mil pessoas. E as melhores músicas foram as que fizemos só nós três. A cabeça tinha dado esse clique.”

Uma plateia dos 80 aos 20

Depois disso, diz Fafá de Belém, a sua vida mudou completamente. “Fui chamada a fazer teatro, coisa que não fazia desde os 16 anos. E depois a fazer uma novela falando de Belém. Dizem que eu me reinventei aos 60. Mas não teve nenhum marqueteiro dizendo ‘você vai por aqui’, foi uma coisa natural. E eu, que já estava quieta, para mim o mainstream era uma coisa que fazia parte de um tempo da minha vida, de repente sou jogada de novo no mainstream. E apanhei um susto. E foi uma reviravolta grande, a plateia renovada, o meu público de 80 anos misturado com jovens de 20…”

A Portugal, Fafá de Belém traz o espectáculo completo, tal como foi apresentado no Brasil. “Pela primeira vez faço o Coliseu do Porto e vamos ousar fazer o Coliseu de Lisboa com este espectáculo.” Com ela, estarão Manoel e Filipe Cordeiro e o seu som eléctrico. Preparem-se para a novidade. 

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