Incêndio em Braga queimou 1000 hectares em tempo recorde

Responsável da Protecção Civil convicto de que seria “impossível” Braga sofrer um incêndio com semelhante área afectada.

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Vista aérea do incêndio que se iniciou em Leitões e se alastrou até aos limites da cidade de Braga LUSA/HUGO DELGADO

Os ventos na ordem dos 90 a 100 quilómetros por hora na fase de propagação das chamas foram a principal causa dos cerca de 1000 hectares que arderam na cidade minhota, pela encosta da Falperra, considerou o responsável do município pela Protecção Civil, Vítor Azevedo, assumindo que a primeira prioridade dos cerca de 290 operacionais no terreno foi a salvaguarda de pessoas e habitações. As vias cortadas devem ser reabertas na terça-feira, após sujeitas a uma perícia.

O incêndio deflagrou na tarde de domingo em Leitões, ainda no concelho de Guimarães, e se estendeu, depois, pela freguesia da Morreira até às de Nogueiró e de Tenões, foi declarado extinto pelas 7h00 de segunda-feira. A área ardida de cerca de 1000 hectares ardidos foi a maior dos registos históricos do concelho num período de 24 horas.

Até há bem pouco tempo, Vítor Azevedo estava convicto de que seria “impossível” Braga sofrer um incêndio com semelhante área afectada. O responsável esclareceu que as “condições meteorológicas adversas”, a “velocidade de propagação” do incêndio e o “comportamento extremo” assumido, numa “área de interface urbano-florestal”, “densamente povoada”, dificultaram a “articulação” entre as “equipas de bombeiros”, a PSP e a GNR na “protecção à população”.

A operação envolveu 290 operacionais e 100 viaturas de entidades como os corpos de bombeiros do distrito, a Autoridade Nacional para a Protecção Civil, a GNR, a PSP, os GIPS e a Polícia Municipal, segundo dados avançados pelo adjunto técnico dos Bombeiros Sapadores de Braga, Nuno Machado. A primeira prioridade de quem esteve no terreno foi sempre a de proteger “pessoas e bens” e também habitações, com o “combate ao incêndio florestal” a ficar para segundo plano, apesar de se tratar do “pulmão de Braga”, admitiu Vítor Azevedo.

O incêndio já não tem “frentes activas”. As “operações de rescaldo” foram pontuadas por “reacendimentos” que geraram “colunas de fumo”, mas estão “sob controlo das equipas que estão no terreno a monitorizar o perímetro onde deflagrou”, esclareceu o vereador responsável pela Protecção Civil e vice-presidente da Câmara de Braga, Firmino Marques. A avaliação da ocorrência vai arrancar na manhã de terça-feira com uma perícia nas duas vias cortadas ao trânsito automóvel e pedonal – a Via da Falperra e a via de acesso ao Bom Jesus e ao Sameiro, ambas pertencentes à EN 309.

Vítor Azevedo explicou que vão ser analisadas quais as árvores, algumas delas de grande porte, que acarretam “risco de queda para a via pública” e, consequentemente, têm de ser de “imediato cortadas ou derrubadas”. O responsável mostra-se convicto que, depois de concluída a avaliação, pelo final da manhã, as vias irão ser reabertas.

Confrontado, porém, com casos de pessoas que circularam a pé nessas vias, quer durante a noite de domingo, quer na segunda-feira, o chefe da Divisão de Protecção Civil disse que a situação, proibida, foi “identificada” e “transmitida à GNR e à PSP”. Mas realçou que existe “uma infinidade de caminhos por onde se pode aceder pedonalmente a essas vias” e que, no domingo, o “corte das estradas” não era a prioridade dos operacionais.

A ausência de “meios aéreos” no terreno, embora supostamente estivessem disponíveis até 15 de outubro, acabou por ser mencionada por Firmino Marques. O vice-presidente reconheceu que os meios “não chegavam para todo o território”, cilindrado por uma “vaga de incêndios atípica”, tal como a vizinha Galiza, comunidade autónoma de Espanha à qual expressou solidariedade.

Pessoas evacuadas já regressaram a casa

O incêndio obrigou à retirada de cerca de uma centena de pessoas pela PSP, pela GNR e pela Polícia Municipal, numa “óptica de prevenção”, confirmou Vítor Azevedo. Entre os quais os utentes do Projecto Homem, que acolhe pessoas vítimas de dependência de droga e álcool, e jovens em situação difícil, os hóspedes de um hotel, o sacerdote e as irmãs da Casa da Cruz, instituição religiosa. Mas já “puderam regressar todas” as pessoas aos respectivos locais. A excepção é um idoso de 86 anos, que está já a ser acompanhado pela Segurança Social, após a sua habitação, no Fraião, ter sido destruída pelas chamas.

O outro imóvel afectado, um “armazém que albergava duas oficinas, uma de polimentos e uma de automóveis”, ardeu entre as 3h30 e as 4h00 de segunda-feira, com Vítor Azevedo a expressar a dúvida se esse “incêndio” resultou do “incêndio florestal” ou de outra causa.

O responsável da Protecção Civil de Braga disse ainda não ser possível avançar com uma data para a desactivação do Plano Municipal de Emergência, que reúne Comissão de Coordenação de Protecção Civil, com GNR, PSP, GIPS, Cruz Vermelha Portuguesa, EDP e Segurança Social”, tendo afirmado que a decisão depende do resultado da “avaliação” em todo o perímetro do incêndio.

Além dos 1000 hectares ardidos, Vítor Azevedo referiu ainda que mais 200 hectares arderam com outro incêndio que se propagou desde S. Pedro d’Este até às freguesias de Navarra e de Pousada, já na zona fronteiriça entre o concelho de Braga e os concelhos da Póvoa de Lanhoso e de Amares.

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